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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

Próximo presidente do Brasil, quem é?

O vice-presidente da República, Michel Temer, é o convidado da Comissão Especial sobre a Reforma Política, para falar sobre o tema (Antonio Cruz/Agência Brasil)
O vice-presidente Michel Temer

 

Pragmático

Quando, em 2010, decidiu candidatar-se a vice-presidente  num governo apoiado pelo PT, Temer achava que a ainda pouco conhecida Dilma Rousseff tinha poucas hipóteses de ser eleita.  Com raciocínio pragmático, porém, calculou que ele próprio tinha ainda menos hipóteses de ser reeleito deputado federal por São Paulo.

A sua habilidade oratória é inversamente proporcional ao seu sucesso nas urnas. Desenvolto nos bastidores, é péssimo numa tribuna, perante o público.

Especialista em direito constitucional, Temer usa frases rebuscadas e palavras pouco comuns; diz-se  “caceteado” quando está muito irritado. O seu perfil contido, a postura sempre erecta, as roupas e cabelos bem alinhados renderam-lhe alcunhas como: “mordomo de filme de terror”  (como lhe chamou o falecido senador António Carlos Magalhães).

Michel Miguel Elias Temer Lulia, nasceu  em 23 de Setembro de 1940.

A sua actividade política limitou-se à participação no Centro Académico 11 de Agosto da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, antes do golpe de 1964. Durante o período da ditadura, fez carreira como advogado e professor universitário.

Filiou-se no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) em 1981.

Em 1983, iniciou a carreira política pelas mãos de Franco Montoro (que conheceu quando leccionava na PUC-SP) quando este,  já governador de São Paulo pelo PMDB, o convidou para ser procurador-geral do Estado.

De procurador-geral, ascendeu à Secretaria de Segurança, no meio de uma das históricas crises entre as polícias civil e militar. Ganhou fama de conciliador, embora o problema ainda se arraste.

Em 1992, no governo de Luiz Antônio Fleury Filho, voltaria ao cargo para tentar resolver a crise que explodiu após o massacre do Carandiru. Nessa fase consolidou a fama de moderado. Conseguiu diminuir o número de mortos pela PM de São Paulo e evitou uma rebelião na corporação.

A estreia como parlamentar ocorre entre esses dois momentos. Candidato a deputado em 1986, foi eleito como suplente, assumiu em 1987 e acabou por participar da Assembleia Constituinte que escreveu a Constituição de 1988.

Também no Congresso ganhou fama de bom orador. Foi eleito em três ocasiões para a presidência da Câmara, duas no governo Fernando Henrique Cardoso (1997-2001) e uma na gestão Lula da Silva (2009-10).

Manobrando sempre nos bastidores, consegue ascender e é desde 2001, presidente nacional do partido, o PMDB, cargo no qual se mantém por ter aprendido a administrar as diversas correntes no interior do mesmo.

O controle do PMDB é a sua principal fonte de poder.

 

Entre a espada e a parede

Com o impeachment instalado ( Eduardo Cunha aceitou o pedido de impeachment de Dilma em 2 de Dezembro de 2015), alguns aliados de Dilma Rousseff começam a “cobrar” um gesto de “lealdade” de Temer. O vice ter-se-a sentido “emparedado”. Cinco dias depois do pedido ter sido aceite na Câmara dos Deputados,Temer enviou uma carta a Dilma. Na missiva, que se tornou pública, mostrou-se descontente com o isolamento.

Criticado pelo gesto e questionado sobre a sua motivação, o vice-presidente Temer respondeu a aliados que gostaria de ter conversado com Dilma, mas decidiu escrever porque ela não o deixava “concluir uma frase”.

Temer demora a digerir equívocos. Analisa repetidamente as situações, fica quieto e irritadiço. Um amigo ter-lhe-a dito que, se continuasse recolhido, “perderia tudo” –Renan Calheiros se movimentava para tirá-lo da presidência do PMDB.

O abatimento deu lugar à luta para se manter à frente do partido, tarefa a que se dedicou com exclusividade. Na convenção de 12 de Março, confirmou a sua recondução.

O que se seguiu, sabemos. Desautorizado pela presidente com a nomeação de Mauro Lopes para a Aviação Civil, Temer partiu para o tudo ou nada. Avisou que abriria processo pela expulsão do aliado e iniciou a articulação que levaria à saída do PMDB do governo, no fim de Março.

Esse movimento empurrou os principais partidos da oposição, como o PSDB e o DEM, para o apoio formal a Temer.

Questionado sobre a confiança em Temer, Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) –visto como fiador da coligação de apoio em torno do vice-presidente – declarou à Folha, por escrito: “Experiência política ele tem. Base jurídica, também. Terá de governar pensando na história, mais do que nos acordos partidários. O país espera dele que assuma a visão que distingue o político comum do homem de Estado”.

No Palácio do Jaburu, a sua residência oficial, Temer passou a receber dezenas de parlamentares todos os dias, de segunda a quinta.

Na passada 2ª-feira regressou para o Jaburu ainda inseguro quanto às suas hipóteses de vencer a batalha. Na terça, sentiu ventos favoráveis. Representantes de poderosos sectores da economia foram visitá-lo para avisar que, com Dilma, não dava mais.

A peregrinação empresarial contou com emissários de grandes bancos, que foram seguidos pelo presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e, depois, por dirigentes da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Ambas divulgariam o seu apoio ao impeachment.

Um aliado resume a sensação de alívio e expectativa: “Se esses caras forem mesmo aos deputados, nós viramos o jogo”.

O resultado foi o conhecido neste domingo (17).

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