Segundo aquela ONG, o roubo das terras dos índios por parte de madeireiros e fazendeiros sem escrúpulos está a colocar várias tribos em risco de extinção.
Uma das mais de 100 tribos que ainda resistem na Amazónia – os Guarani Kaiowá – são regularmente alvo de violência brutal e vêm-se despojados das suas terras, roubadas pelos madeireiros que visam o lucro fácil. Esta tribo tem hoje a maior taxa de suicídio do mundo.
A situação não é nova, mas tem-se agravado com a crise económica no Brasil e afectado os povos mais vulneráveis do planeta. “Povos como os Kawahiva estão a ser exterminados com a violência de invasores que roubam as suas terras e recursos, e com doenças como a gripe e o sarampo, para as quais eles não têm resistência imunológica”, alerta aquela associação.
Na zona centro-oeste do Brasil, inúmeros fazendeiros devastaram o território dos Guarani, tendo roubado quase todas as suas terras. As crianças passam fome e os seus líderes são assassinados, um a um, por “pistoleiros” contratados pelos fazendeiros. Centenas de homens, mulheres e crianças Guarani já cometeram suicídio para fugir à situação.
Segundo Stephen Corry, director da Survival, estes “povos indígenas têm sido gradualmente aniquilados, durante séculos, por todo o continente e isso tem que acabar”. Em vésperas de receber os Jogos Olímpicos, “em vez de julgar as tribos como obstáculos ao ‘progresso’, o Brasil deve reconhecer que elas são uma parte intrínseca da sua nação moderna e merecem ter os seus direitos territoriais protegidos, para que possam sobreviver e prosperar”, adianta o responsável.
“Todos os olhos estão voltados para o Brasil, que se prepara para acolher as Olimpíadas, e está nas mãos dos brasileiros assegurar que a história olhe favoravelmente para a sua geração”, acrescenta o director da Survival.
Campanha quer evitar aprovação de emenda constitucional que desprotege terras indígenas
Apesar da actual situação política no Brasil, a campanha da Survival tem como objectivo chamar a atenção para as graves ameaças e violações de direitos humanos enfrentadas pelos povos indígenas. Essas ameaças continuam, independentemente da instabilidade política no país.
A campanha, denominada “Pare o genocídio no Brasil” centra-se na protecção das tribos isoladas da Amazónia, como os Kawahiva, no fim da violência e do roubo de terras dos Guarani no centro-oeste do Brasil, e no fim da PEC 215, uma proposta de emenda constitucional “que seriamente enfraqueceria os direitos territoriais indígenas, significando um desastre para as tribos espalhadas pelo país”, avança a ONG.
Segundo a associação, “a PEC 215, caso implementada, daria à bancada ruralista a oportunidade de bloquear o reconhecimento de novos territórios indígenas, e possibilitaria o desmantelamento de terras existentes”.
Como as tribos dependem da terra para sobreviver, isso representaria uma séria ameaça para muitos povos, enfraquecendo definitivamente os seus direitos humanos. A Survival argumenta que estes planos constituem uma ameaça genocida para os povos indígenas no Brasil, e que devem ser imediatamente travadas.