Em Portugal há uma nova actividade em franca expansão, a de homem-estátua. Nos últimos anos, dezenas de jovens, de ambos os sexos, tentam fazer o que António Gomes dos Santos já faz desde 1988, ou seja: ficarem estáticos nas ruas das cidades, enquanto as moedas vão caindo na caixa do artista…
Em 1988 um jovem estudante da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra surpreendeu o país ao estar completamente parado durante mais de 15 horas no Centro Comercial das Amoreiras. António Gomes dos Santos batia assim o recorde de imobilidade do Guiness, ganhando lugar de honra no famoso livro de recordes. Desde então nunca mais parou, ou melhor continuou parado, fazendo disso profissão, com grande sucesso nas ruas de cidades de mais de 60 países, mas também em eventos comerciais e artísticos pelos quatro cantos do Mundo. Hoje, o mais famoso “static man” junta à imobilidade a levitação, deixando estupefacto quem com ele se cruza.
A sua arte, que “é uma actividade não reconhecida profissionalmente e que amiúde é metida no mesmo saco dos artistas plásticos ou dos actores” tem vindo a conquistar um crescente número de praticantes. António Gomes dos Santos calcula que actualmente em Portugal existam cerca de 30 estátuas vivas profissionais, a que se juntam outros tantos amadores em exibições esporádicas.
Para este crescimento muito têm contribuído os vários Festivais de Estátuas Vivas que surgiram em várias localidades do país, com especial relevância para o de Espinho – o mais antigo do mundo, que no próximo ano completa 20 edições. Num desses festivais, o da Praia de Santa Cruz, que decorreu no passado mês Agosto, mais de 50 participantes mostraram as suas capacidades como personagens da singular arte de estar quieto. Um deles foi o espanhol, residente em Portugal, Miguel Strebec, que facilmente reconheceu que tentou esta actividade, pois “estava desempregado”. Desde então tem participado em festas particulares e comerciais, mas para além deste festival “nunca” foi estátua na rua.
Mais recentemente, nos dias 3 e 4 de Outubro, 33 candidatos a estátuas vivas mostraram os seus atributos no Festival de Estátuas de Sintra, provando que crescem os eventos deste tipo, juntando pessoas que encontram na quietude um meio de vida e de expressão artística.
Mas para o grande mentor desta arte, António dos Santos, “o verdadeiro palco duma estátua viva é a rua”. “Quando as ruas são galerias de arte, as estátuas podem estar vivas”, considera. Em actividade permanente há 27 anos, António deixa o conselho aos novos que procuram seguir os seus passos: “A qualidade e inovação ditam o êxito desta arte”. Quem o conseguir pode “viver ao nível da classe média portuguesa”, considerou o mais famoso homem-estátua, várias vezes recordista mundial de imobilidade.