O Amigo Gigante é o novo prodígio da magia de Steven Spielberg, da Disney e do original de Roald Dahl. A concretização do imaginário do famoso conto de Dahl foi um dos grandes eventos do 69º Festival de Cannes, na estreia mundial que aqui decorreu este sábado.
Quem transforma em realidade o encantamento deste clássico mais real é a presença de Mark Rylance, o actor que ainda recentemente recebeu o Óscar para Actor Secundário por uma outra colaboração com Spielberg, em A Ponte dos Espiões. E é graças ao prodígio de Spielberg criar magia, neste caso com recurso a uma melhorada técnica de performance capture, que consegue recuperar o tacto para espevitar o imaginário juvenil.
E não é que a magia acontece mesmo? Desde o momento em que a menina Sophie (Ruby Barnhill) se atreve a levantar-se à noite e a deixar-se levar pelo tal Gigante Bom (Rylance). Uma coisa é certa, em O Amigo Gigante somos todos crianças. Dos 5 aos 75.
Era esse tipo de sentimento que Spielberg procurava, pois desde As Aventuras de Tintim – O Segredo do Licorne que estava longe desse imaginário. Estava à procura de uma boa história, recordou Steven Spielberg durante a muito concorrida conferência de imprensa. A verdade, explicou, é que as melhores histórias são aquelas que estão debaixo dos nossos olhos, como esta do Roald Dahl. E explicou que a razão dessa escolha começou por vir lá de casa. Foi uma das primeiras histórias que contei aos meus filhos, disse; e eu tenho sete filhos. De maneira que comecei também eu a ser eu próprio um Bom Gigante. Felizmente tínhamos adquirido os direitos do livro, o que facilitou as coisas.
No entanto, esta jornada começara há cerca de uma década e meia atrás. Sobretudo graças ao desenvolvimento que teve a tecnologia da captura de movimentos faciais e corporais, permitindo mostrar um gigante numa versão de Mark Rylance no tamanho de um edifício. O que poderia correr mal tendo o realizador de E.T. aos comandos e com um guião assinado por Melissa Mathisson (desaparecida em Novembro passado), que também pôs a sua assinatura em E.T.? Pouco, ou quase nada.
Questionado sobre a vontade antiga de contar uma história de amor, o realizador americano justificou que esta era a melhor história de amor. É a história de amor que os netos têm pelos seus avós e a que estes têm pelos netos. Acho mesmo que esta é a minha mais completa história de amor.
Spileberg terminaria este encontro com uma chave de ouro conferindo ao cinema uma fonte de magia para aqueles, como os refugiados e os menos desafortunados. Acho que é esta a verdadeira magia que o cinema pode dar às pessoas. Dar-lhes uma esperança para lutar pelo dia seguinte.
(Nota do autor: artigo publicado originalmente no Jornal i)