“Que os organizadores digam 40 mil, na sua vontade de mostrar uma força que não têm, é coisa justificável. Injustificável, e até vergonhoso, foi o destaque dado a essa informação pela comunicação social que temos. Cada vez me custa mais ver gente séria, e em cargos de chefia, a pactuar com este triste e até trágico estado de coisas. Se calhar, afinal não são gente e apenas andam há muito a enganar-nos”, salienta Miguel Falcón, jornalista “exilado” com larga experiência nesta matéria.
É da praxe, em manifestações da CGTP ou de Movimentos Sociais, os órgãos de comunicação social (OCS) apresentarem os números avançados pelos organizadores contrapondo-os às estimativas da Polícia e do Ministério da Administração Interna. Este “costume”, em vigor desde o 25 de Abril, impôs-se como norma por todos aceite. Conhecidos os números “avançados” por ambas as partes, a cada cidadão é deixada a liberdade e responsabilidade de acreditar nos que melhor se ajustam às suas convicções e interesses.
Esta prática consensual e ubíqua, velha de 42 anos, estabeleceu o padrão adoptado por todos os jornais, rádios e TVs, determinando o modus facciendi da Imprensa… até Domingo passado. Por razões misteriosas a generalidade dos OCS nacionais nem esboçou qualquer tentativa de disfarçar. Se a organização afirma que estavam 40 mil pessoas é porque estavam não valendo portanto o trabalho de validar esta informação junto da PSP ou do MAI. A unanimidade foi confrangedora e a omissão foi de tal modo gritante que até os mais ingénuos deram pela ausência do contraditório.
Poderia dizer que fiquei surpreendido… mas estaria a mentir. Depois das Quartas-feiras amarelas das TVs, com inúmeros pontos de reportagem em directo onde apenas uma das partes tinha voz, estava preparado para tudo. Enfim, para quase tudo. Confesso que nunca me passou pela cabeça que profissionais, titulares de uma Carteira Profissional e, por essa razão, adstritos ao cumprimento de um código deontológico, não cuidassem de verificar, pelo menos, a “viabilidade física” da veracidade da informação prestada pela organização.
Daí o meu espanto, leia-se escândalo, quando constatei, através de uma simples verificação do Google Maps, que no espaço ocupado pelos manifestantes (cerca de 4 000 m2) teriam de estar 10 pessoas por metro quadrado para confirmar os números divulgados pelos proprietários dos Colégios. Algo mais ao alcance de Liliputianos ou de Mínimos que de seres humanos comuns. Ou seja: 40 mil não!
Feitas as contas, recorrendo ao Google Maps e à superfície ocupada, é fácil constatar que o número de manifestantes jamais poderia exceder algo entre uns escassos 8 mil e uns medianos 16 mil, consoante se considerem 2 ou 4 pessoas por m2.
Neste fenómeno há duas incógnitas que a Ciência e a História um dia se encarregarão de esclarecer. A primeira é: se José Sócrates tentou controlar os OCS, como muitos afirmam, como é possível que estes se encontrem controlados pela Direita Radical que dirige o PPD/PSD e o CDS/PP? Ou Sócrates era mesmo nabo ou alguém forjou uma bela história para nos levar (leia-se trazer) à pobreza em que nos encontramos. O Leitor que escolha! A segunda é: como “fazer caber” 40 mil pessoas em 4 mil m2 sem a máquina de “Querida, encolhi os miúdos”?