Ao não participarem no executivo, mas limitarem-se a dar o seu apoio, por acção ou omissão, António Costa conseguiu o “milagre” do apoio deixando-lhes a liberdade de continuarem a afirmar as suas posições para consumo do seu eleitorado.
Pela primeira vez, existe uma aliança à esquerda quebrando-se o tabu da sua impossibilidade.
A pressão sobre o executivo para cumprimento das promessas eleitorais, retirando-lhe espaço para gerir temporalmente as reposições prometidas, é uma desvantagem .
A velocidade com que estas medidas estão a ser executadas, adicionada à pressa em se desfazerem opções que, em muitos casos, deviam ser avaliadas em função dos resultados produzidos, não abona a favor da governação e alimenta críticas e descontentamentos mesmo nas hostes do PS.
Uma das questões que merecia melhor reflexão é a reposição das 35 horas. Não se discute a sua justeza mas é discutível a oportunidade do momento.
Havia que, com serenidade, avaliar o seu custo, o seu impacto no crescimento e a oportunidade tendo em conta a crise de crescimento da economia europeia e mundial.
Repor por ser justo e eventualmente criar condições para a breve trecho ter que se voltar atrás não aproveita a ninguém.
Percebe-se a pressa do BE, ainda embriagado com o sucesso nas ultimas eleições, que tem tido dificuldade em entender que a governação não pode ser feita ao sabor dos sentimentos sem ter em conta a realidade.
A política deve comandar a economia mas não se pode abstrair dela.
A confiança, essencial ao crescimento, é um elemento muito subjectivo. Não se tem confiança porque sim.
A acção do PSD, com toda a guerra política à volta do plano B e de questões do mesmo tipo, só servem para minar a confiança.
Faria melhor o governo em se empenhar na criação dum mercado de emprego em tempo parcial, em fiscalizar o trabalho não pago, em legislar para evitar a acumulação de cargos, etc
O mercado de part-time poderia ser utilizado por mães para acompanharem os filhos (com impacto nas taxas de natalidade). Aumentar a idade da reforma criando um período a partir do qual o trabalhador passava a regime de tempo parcial, etc.
Criar um regime claro e rigoroso de incompatibilidades. Porque é que um deputado à Assembleia da República pode acumular com outras funções? Porque é que um Arquitecto duma Câmara pode, através da sua empresa, muitas vezes disfarçada mas conhecida, fornecer serviços à Câmara? Porque é que os médicos podem acumular o trabalho no Hospital com o do seu consultório?
Imagine-se quantos médicos se empregariam se o trabalho em hospitais fosse obrigatoriamente em regime de exclusividade.
Porque se permite que um colaborador possa prestar serviços ao seu empregador através duma empresa sua? Para fazer o que lhe competiria enquanto colaborador. Era, não sei se ainda é, situação corrente na Televisão.
Tudo medidas simples, com resultados a curto prazo exigindo somente coragem para combater os “lobbies”.