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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

Orlando sem a nossa (grande) compaixão

João Vasco AlmeidaA morte em Orlando, Florida, EUA, de 50 pessoas à ponta da metralhadora de um idiota faz a Europa torcer o nariz, mas pouco mais. A culpa desta aparente falta de compaixão é por causa na inanidade dos legisladores norte-americanos, que continuam a permitir a venda de armas de guerra em supermercados, lá na América.

Os Europeus, habituados a ir ao Pingo Doce sem trazer papel de cozinha, balas, café e uma metralhadora, não se emocionam muito, já, com os bárbaros massacres dos loucos contra os inocentes.

Há na Europa um sentimento de que a culpa é do Congresso e Senado americano, reféns da Associação Nacional de Espingardas.

Nenhum ser humano normal e estável é insensível à morte de outro. A morte de 50, ainda para mais inocentes massacrados, é naturalmente causa de lamento e condenação do homicida. Mas.

E no “mas” conta-se, ainda, além da questão das armas, a tendência americana de culpar imediatamente a ISIS, como outrora se culpava a Al-Quaeda ou os Khmer Vermelhos… Os americanos têm esta tendência de vitimização e mania da perseguição: é tudo contra eles, pobrezinhos. Preferem apontar o dedo aos outros meninos em vez de assumirem as suas responsabilidades.

Sabe-se já, pela voz da ex-mulher de Omar Mateen, o idiota homicida, veio a público explicar que, muito antes da alegada “radicalização” do palhaço, ele abusava-a fisicamente e impedia-a de falar com os próprios pais, mantendo-a refém em casa.

O pai de Omar pediu desculpas publicamente e disse apenas que o filho era maluco, não um militante da ISIS, que esta era apenas uma desculpa esfarrapada para o que fez. Parece que o Omar não conseguiu olhar para dois homens que se beijavam na rua e decidiu matar pessoas por causa disso.

Se os loucos não pudessem comprar armas à toa – este, então, já tinha sido catado pelo FBI duas vezes, por andar a dizer lá no emprego que gostava da ISIS -, talvez os loucos o que fizessem era andar à pedrada, em vez de ter metralhadoras.

3674434567_efac4dced2_oSe os americanos não tivessem escolhido o machista, racista, reaccionário e ignaro Trump como candidato da direita, talvez a Europa sentisse um abalo maior.

Mas a Europa tem 500 mortos, em média, nas águas do mar mediterrânico, a cada mês que passa, por culpa de uma política americana e da NATO que foi desastrosa desde o fim da administração Carter. Está farta dos queixumes e já não se sensibiliza com o Wolf Blitzer ou a chorosa Erin Burnett.

Por isso, este domingo, a morte de 50 pessoas é lamentada na Europa por várias razões: por terem morrido, por ser um crime hediondo, por haver armas de guerra nos supermercados, por nem a câmara alta nem a baixa mudarem a lei. Mas não alinha mais no copioso cheiro a vitimização. Mais claro: a culpa é do Omar, mas a permissividade é da República.

Finalmente, dois pontos simples: não comove nem mais nem menos que os mortos sejam homossexuais ou trissexuais ou monossexuais. Pensei, sinceramente, que já tínhamos ultrapassado o preconceito. São mortos, mortos de um modo hediondo e ultrajante. Ninguém está a reportar se 20 eram evangélicos, dez tinham apenas uma perna e um sofria de espondilite anquilosante. São pessoas que morreram às mãos de um louco. Podíamos começar a deixar cair o preconceito já.

Segundo ponto: parece (parece) que os donos da discoteca tentaram avisar os clientes do massacre pelo Facebook, postando uma mensagem a dizer que fugissem. E aqui, sinceramente, o cérebro faz um nó e não vos sei dizer nada.

Viva Santo António e São Marcelo, em férias.

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