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Quarta-feira, Janeiro 15, 2025

Assim vai a campanha das Eleições 2016

Donald Trump insinua que o presidente dos EUA tem uma espécie de “agenda escondida” quando evita falar de terrorismo islâmico, ao abordar o tiroteio em Orlando, no estado da Florida, que matou 49 pessoas no início da semana. Jornal norte-americano avança a possibilidade do veterano Bernie Sanders desistir da corrida a favor de Hillary Clinton. O polémico empresário volta a querer banir muçulmanos dos EUA e causa novo mal-estar entre figuras de topo do Partido Republicano. Um jornalista de investigação descobre dados que indiciam possível fraude fiscal cometida pelo empresário na década de 80.

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Tiroteio de Orlando: Trump ataca Obama

“Estamos a ser liderados por um homem que não é duro, nem inteligente, ou tem mais alguma coisa em mente”. Donald Trump regressa assim às declarações polémicas visando o presidente dos EUA, Barack Obama. O candidato republicano aproveitou as declarações de Obama a propósito do massacre de Orlando para dizer “as pessoas não acreditam que ele está a agir da forma que está, sem ser capaz de dizer “terrorismo radical islâmico”. Qualquer coisa se passa. É inconcebível”, insistiu, citado pela CNN.

Antes destas declarações, Trump chegou a escrever na sua conta de Twitter que o chefe de Estado norte-americano devia demitir-se por não ter ligado o tiroteio em Orlando ao terrorismo islâmico. “Ou ele não percebe nada, ou percebe mais do que qualquer pessoa pensa. De qualquer forma é inaceitável”. Trump insiste que “muita gente” acha que Obama não quer perceber o terrorismo.

O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, assumiu não ter falado com Obama sobre as declarações de Trump mas acrescentou: “quando estamos focados em algo tão importante como ajudar o país a responder à pior matança a tiro da nossa história, é importante não nos distrairmos com coisas pequenas”.

Mais tarde, Trump voltou a falar do assunto em entrevista à Fox News: “ninguém sabe o que se passa, ninguém sabe porque Obama não tem mais raiva, mais zelo. Até parece que está a adormecer”, frisa.

Sanders pode desistir a favor de Clinton?

Bernie Sanders, o senador do Vermont e (ainda) adversário de Hillary Clinton na corrida à nomeação democrata, encontrou-se esta terça-feira com a ex-senadora, estando sob pressão para desistir da corrida em favor de Clinton. O jornal New York Times falou com pessoas próximas da campanha do veterano senador (as quais pediram anonimato). Estas asseguraram que Sanders pondera de facto a hipótese de desistir, caso algumas medidas por ele defendidas sejam levadas em conta.

Entre as propostas que Sanders quer ver apoiadas por Clinton, estão o salário mínimo do país a 15 dólares à hora, um programa nacional de estímulo ao emprego para reparar a infra-estrutura nacional, e zero propinas para as universidades públicas norte-americanas. O jornal avança que a táctica de “nunca desistir” de Sanders pode ser uma atitude com vista a negociar, e conquistar, certas concessões por parte do Partido Democrata.

Oficialmente, o senador do Vermont declarou-se “ansioso por se encontrar com Clinton e agradece que possam falar sobre o futuro do partido”, anunciou o seu porta-voz, Michael Briggs. Do lado da ex-primeira-dama, um comunicado oficial confirmou esse encontro e também falou da expectativa para “alcançar um compromisso para uma agenda progressista, e trabalharem juntos para travar Donald Trump numa eleição geral”.

O New York Times escreve ainda que Clinton e a sua equipa estão a contar com o senador do Vermont: esperam que este desista da corrida, anuncie que a apoia e insista com as bases dele (10 milhões de eleitores) para que passem a apoiar a antiga senadora de Nova York.

Proposta de Trump volta a irritar republicanos

Altos responsáveis do Partido Republicano uniram-se ao presidente Barack Obama, na sua condenação de mais uma polémica proposta de Donald Trump: banir cidadãos muçulmanos de território norte-americano. Esta proposta, feita após saber-se que um muçulmano é o suspeito de levar a cabo o massacre de Orlando, causou mal-estar entre alguns sectores republicanos. A proposta, rejeitada com irritação tanto da parte do presidente como da candidata democrata Hillary Clinton, reforça a ideia das tensões entre figuras do establishment republicano e o empresário e apresentador de reality shows.

Enquanto os mais fiéis adeptos de Trump alegam que são necessárias medidas drásticas para reforçar a segurança nacional, figuras do partido em Capitol Hill distanciaram-se de tais propostas: Paul Ryan, porta-voz dos republicanos, disse que o empresário queria ganhar mais votos através das suas políticas anti-muçulmanas. O Washington Post cita o responsável ao dizer que “não me parece que banir muçulmanos seja no interesse do país, não reflecte os nossos princípios, não só como partido mas como nação”. Ryan defende um “teste de segurança, não um teste de religião” para imigrantes.

Mesmo Bob Corker, líder do Comité do Senado para Relações Externas e admirador de Trump, expressou preocupação perante as novas propostas do empresário, que insiste num controlo mais estreito na imigração, dando mesmo a entender que estava “desapontado” com a atitude do candidato à Casa Branca.

Lindsey O. Graham, senador, militar e considerado um especialista de topo em questões de segurança nacional, confessou “ter ficado sem adjectivos” quando questionado sobre Trump: “não me parece que ele tenha o bom senso, o temperamento ou a experiência para lidar com o que enfrentamos”. E continuou as críticas: “ele parece sugerir que o presidente é “um deles”. Acho isso muito ofensivo e considero que se ultrapassou a fronteira do bom senso. Os meus problemas com o Presidente Obama dizem respeito às suas escolhas políticas”, esclareceu.

Terá Donald Trump cometido fraude fiscal?

David Cay Johnston, jornalista de investigação, galardoado com um Prémio Pulitzer, foi directo nas acusações: através do seu trabalho no site noticioso The Daily Beast, citado pelo site Democracy Now, diz existirem “novas provas que mostram que Donald Trump não pagou impostos”.

“Ele fez um trabalho muito bom em tentar manter escondidos do público uma série de informações e em parar com investigações, mas eu descobri dois requerimentos fiscais que ele apresentou em 1984, um junto da cidade de Nova York e outro junto do estado”, revelou o jornalista. Cay Johnston afirma que Trump declarou o chamado “Schedule C”, ou a declaração de um trabalhador freelancer, tendo declarado zero ganhos e 626 mil dólares de despesas, sem qualquer recibo ou documentação.

Quando confrontado com os documentos em causa, durante as audições com as autoridades fiscais, Trump terá alegado: “é a minha assinatura, mas eu não tratei desses documentos”. Veio a revelar-se, acrescentou o repórter, ser uma fotocópia; Cay Johnston afirmou ter feito perguntas às empresas do milionário sobre o assunto, as quais ficaram sem resposta. Num dos casos, o empresário foi penalizado, noutro, a penalização não foi aplicada porque não foi encontrado o documento fiscal de reembolso original.

“Em ambos os casos, mostra que em 1984 Donald Trump não pagou quaisquer impostos sobre o rendimento ao nível federal. E há uma boa razão para pensar que ele não paga esses impostos agora: é porque uma provisão na lei federal permite a profissionais com vastas propriedades viverem sem pagarem IRS”. Recorde-se que o empresário sempre evitou apresentar as suas declarações fiscais ao público, apesar das insistentes perguntas da imprensa. Em Maio, no programa da ABC “Good Morning America”, chegou a responder a um jornalista: “não é da sua conta”, admitindo logo a seguir que “luto arduamente para pagar o mínimo de impostos que possa”.

Para Cay Johnston, o Congresso dos EUA poderia forçar o aspirante a presidente a divulgar a sua declaração de impostos: bastaria para isso divulgar online (no site do Internal Revenue Service) os reembolsos fiscais de qualquer candidato que apareça em dez ou mais estados. Isso incluiria o próprio Trump, Hillary Clinton ou Gary Johnson, o candidato “libertário”. Johnston acredita que o candidato republicano tentaria desafiar tal atitude, classificando-a como “bill of attainder” (uma espécie de acto legislativo onde alguém é considerado culpado da prática de um crime sem julgamento prévio com direito a defesa). Isto é algo que a Constituição dos EUA proíbe.

Mas se se trata de um objectivo das autoridades, tal ilegalidade não procede, acredita o repórter, para quem a divulgação dos reembolsos fiscais dos candidatos seria muito benéfica. Johnston acusa Trump de ter assinado tais documentos para cometer perjúrio. E diz ainda que os argumentos de que este não divulga a sua documentação fiscal porque se considera sempre auditado são “absurdos”. “E todos os seus reembolsos até ao ano de 2011, que não estão mais sob auditoria?”, questionou Johnston, que deixa uma crítica aos jornalistas por não levantarem tal questão nas entrevistas feitas ao candidato. “Temos mesmo de saber se o nosso presidente, ou se as pessoas em quem votamos para presidente, não são vigaristas”, frisa.

Com o seu longo historial de falta de pagamentos aos funcionários, de declarações que se provam não serem verdade, de não pagar dívidas e de deixar falir negócios, o empresário, “um narcisista” que cria a sua própria realidade, pode ter de facto cometido fraude fiscal. “Acho que existem indícios muito fortes”, sublinha Johnston.

Sanders fala aos apoiantes: “revolução política”

Ao invés de anunciar uma desistência a favor de Hillary Clinton, o senador do Vermont escolhe novo alvo. “Esta campanha é também para derrotar Donald Trump. Depois de séculos de racismo, sexismo e discriminação de todas as formas no nosso país, não precisamos de um candidato de um grande partido que faça da intolerância a pedra angular da sua campanha”. Palavras de Bernie Sanders aos apoiantes, num discurso transmitido em live streaming na passada quinta-feira, citado pela CBS News.

O veterano preferiu insistir nas suas críticas ao rival republicano. “Não podemos ter um presidente que insulta mexicanos, latinos, muçulmanos, mulheres e afro-americanos. Nem que no meio de tanta desigualdade na distribuição da riqueza, queira dar milhares de milhões de dólares em isenções fiscais aos muito ricos. Não podemos ter um presidente que, perante todas as provas científicas, insista em considerar as alterações climáticas um embuste”, enfatizou.

“A minha esperança é que, quando os futuros historiadores olharem para o tempo que vivemos e descreverem como é que avançámos para reverter o caminho para a oligarquia, e criámos um governo que representa todos e não apenas alguns, eles venham a notar que, numa escala notável, o esforço começou com a revolução política de 2016”, declarou Sanders.

O político manteve o discurso de cooperação com Clinton visando a unificação do Partido Democrata, mas sem falar em desistir a favor da ex-primeira-dama. “Espero, nas próximas semanas, continuar as discussões entre ambas as campanhas para ter a certeza que as vozes das pessoas serão ouvidas e que o Partido vai aprovar a mais progressista plataforma da sua história. E também que os democratas lutem de facto por tal agenda”, frisou.

As declarações de Sanders foram acompanhadas por uma audiência estimada de 200 mil pessoas, de acordo com a equipa de campanha do senador do Vermont. Este foi saudado por populares à saída do estúdio, após a transmissão do seu discurso.

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