A direita conquistou uma vitória de peso nas eleições legislativas polacas. O Partido Direito e Justiça vai poder formar governo sozinho. Que significa isto para a Polónia e para a Europa?
Depois de oito anos do governo dos liberais do Plataforma Cívica (PO), os eleitores polacos estavam cansados e a mudança estava já anunciada, desde que o candidato conservador Andrzej Duda afastou em Maio Bronislaw Komorowski nas presidenciais.
O resultado obtido pelo Lei e Justiça aconteceu, entre outras razões, devido ao envolvimento de uma nova geração de eleitores. Há dez anos, acreditava-se que quem votava no partido de Jaroslaw Kaczynski eram os idosos, os eleitores sem formação universitária e das zonas rurais. Os jovens com formação, habitantes das grandes cidades, utilizadores da Internet, votavam na Plataforma Cívica. Agora assistimos a uma mudança e os conservadores tiveram um apoio significativo de pessoas mais jovens, com estudos superiores e muito activos nas redes sociais, especialmente no Twitter.
Muito se escreve sobre mudanças radicais na política externa da Polónia, mas esta não é uma perspectiva muito credível, pois até na questão dos refugiados, por exemplo, as posições do governo de Ewa Kopacz não andavam assim tão longe dos conservadores, ou não sejam ambos os partidos herdeiros do movimento político Solidariedade. O novo governo de Beata Szydlo não vai seguramente renegociar com Bruxelas os 7 mil refugiados que o país se comprometeu a receber. Eventualmente, vai assumir reservas face à ideia de acolher um maior número de pessoas. Jaroslaw Kaczynski disse recentemente que as quotas de refugiados deveriam ser definidas com base no PIB dos países de acolhimento. O que muito provavelmente o governo conservador vai defender com mais insistência, será a necessidade de reforçar a agência Frontex e as fronteiras externas da UE.
Quanto à Ucrânia, Varsóvia não vai alterar significativamente a sua política, eventualmente procurará reforçar o apoio a uma Ucrânia democrática e soberana.
Relativamente à Rússia, as relações entre Moscovo e Varsóvia tinha melhorado, com a abertura iniciada pelo anterior governo, mas deterioraram-se ao longo do último ano e meio, não devido a posições de Varsóvia, mas sim à guerra na Ucrânia e à anexação da Criméia por Moscovo. O novo governo terá de enfrentar estas questões, mas não é de agora que a Rússia é um parceiro difícil e os políticos polacos já gastaram muitos dentes nessa frente para que se possa adivinhar agora algum gesto quixotesco.
Nada fáceis são as relações com a Alemanha, principalmente porque Berlim ignora os interesses polacos privilegiando Moscovo. Nas últimas semanas, o governo alemão avançou com o projecto do gasoduto North Stream 2, que ameaça a segurança energética da Polónia e que tem o apoio da chanceler Merkel. O novo governo terá que lidar agora com isto.
Imposto sobre a banca?
O que é interessante nesta nova situação política polaca, é que temos agora no poder em Varsóvia um partido que anunciou a intenção de introduzir um imposto sobre a banca e sobre as grandes retalhistas alimentares.
A Polónia é o país da Europa em que o comércio independente é mais forte. O PiS quer proteger o pequeno retalho, os trabalhadores e os consumidores, que o diga Soares dos Santos com a sua rede Biedronka, coleccionador de processos nos tribunais polacos durante o anterior governo PiS, por não pagamento a empregados por horas extraordinárias. Já se diz que a anunciada taxa de 2% sobre as receitas da Biedronka, pode levar a Jerónimo Martins a aumentar os preços, para transferir para os clientes finais os custos do imposto.
O partido conservador prometeu durante a campanha uma taxa de 0,39% sobre os activos da banca e a intenção de responsabilizar o sector bancário pela maior parte dos encargos que implicará a conversão de empréstimos bancários denominados em francos suíços para zlotys. A medida teria como objectivo aliviar a situação difícil em que se encontra mais de meio milhão de devedores de crédito à habitação, desde que, em Janeiro, o Banco Nacional Suíço deixou de indexar o franco ao euro.
O novo imposto sobre a banca pode afectar até 35% dos lucros do Millennium, mais um encargo para o BCP, a somar à factura da conversão dos créditos à habitação denominados em francos suíços para zloty.
O Partido Lei e Justiça fez muitas promessas, tais como a diminuição da idade da reforma e a introdução de um subsídio por cada criança, numa tentativa de inverter as actuais tendências demográficas da Polónia. O novo governo terá que encontrar o dinheiro para tudo isto.
Deveria a nossa esquerda olhar com atenção para Varsóvia, já que os conservadores parecem determinados a fazer a banca e os grandes tubarões do mercado carregar com alguma parte do fardo que carregam normalmente as gentes da labuta, o chamado “povo”?
Nelson Rodrigo Pereira, Editor de Internacional