“Sans alcool, pas de alcoolisme” LEGRADIN
Mais de metade dos jovens portugueses, entre os 12 e 20 anos, já experimentaram bebidas alcoólicas. As raparigas hoje em dia têm o mesmo comportamento que os rapazes, no que a isto diz respeito, sobretudo em zonas urbanas.
Acredito piamente que as estatísticas que saem todos os anos (quando saem), relativamente ao consumo de substâncias alteradoras do estado de humor – álcool, drogas, medicação – não representam a realidade.
Tal como acredito que as mortes que se devem a estes consumos não estão nas estatísticas, e já aqui escrevi sobre isto.
Em último caso, o registo é “ataque cardíaco, “cirrose” entre outros. Nunca está escrito: alcoolismo. Nem sei se virá a estar.
O mal, em sentido estrito, nem sequer é esse. O que está escrito ou não pouco incomoda o morto. O que incomoda é a desinformação para os vivos. Ou a legitimação de uma situação por encobrimento. Isso sim, é grave.
É a OMS que estabelece a distinção entre alcoolismo como doença e alcoólico como doente. Assim, “Alcoolismo não constitui uma entidade nosológica definida, mas a totalidade dos problemas motivados pelo álcool, no indivíduo, estendendo-se em vários planos e causando perturbações orgânicas e psíquicas, perturbações da vida familiar, profissional e social com as suas repercussões económicas legais e morais”.
“Alcoólicos são bebedores excessivos, cuja dependência em relação ao álcool se acompanha de perturbações mentais, da saúde física, da relação com os outros e do seu comportamento social e económico. Devem submeter-se a tratamento”
Beber álcool desde cedo aumenta muito o risco de desenvolver problemas com as bebidas mais tarde na vida. Todos sabem disso. Mas só de forma inconsciente. No dia-a-dia é absolutamente irrelevante.
O álcool é a substância química mais utilizada pela humanidade. Está presente na maioria das festas e rituais religiosos. Quase todos os países do mundo, onde o consumo é aceite, possuem uma bebida típica da qual se orgulham.
Conversar com crianças cedo e abertamente sobre os riscos de beber pode reduzir a possibilidade de se tornarem “bebedores problemáticos” (nem gosto desta expressão, mas faz sentido). Todos sabem disto? Não.
Em Portugal é muito complicado, em pleno século XXI, conseguir explicar aos pais que devem mesmo falar sobre estes temas. Salvo raras excepções, continua o embaraço, a vergonha, o tabu. Ou a firme crença de que NÃO devem falar “destas coisas”. Horror dos horrores!
Fica aqui claro que estes pais estão a pensar neles próprios e a justificar a sua incapacidade ou ignorância. Não estão a pensar nos filhos.
Tenho visto expressões de “surpresa” e de “estupefacção” quando alguns pais nos ouvem falar de forma normal destes assuntos. Contudo consideram normal beber diariamente, ter os filhos em contacto com álcool desde sempre, porque faz parte integrante da vida. Então, não é assim?
Há tantas questões e pressões diferentes que os adolescentes de hoje enfrentam. Muitas vezes os pais nem fazem ideia.
Cabe a cada um como pai ou mãe, reconhecer quando o seu filho pode estar em apuros e precisa ter alguma ajuda.
Acredite: por muito que possa parecer, o adolescente ainda não tem visão e compreensão para perceber quando está a ir por um caminho perigoso.
Por isso é importante que os pais sejam capazes de reconhecer possíveis sinais de problemas, de modo que possam fazer o que puderem para garantir que recebam atempadamente a ajuda que precisam.
Quando se trata de potenciais problemas de abuso de álcool, alguns dos sinais podem incluir:
- Amigos – Uma das coisas que pode vir a perceber é que o seu filho parou de andar com os amigos que geralmente andava. Pode de repente, começar a passar mais tempo com pessoas novas, que podem não ser a melhor influência ou ter os melhores hábitos. Ou então começar a passar muito tempo sozinho. Ambas estas mudanças podem ser uma indicação de que algo está errado.
- Escola – Provavelmente haverá uma queda significativa das notas (embora nem sempre seja necessariamente assim, sobretudo se nunca foi um aluno excepcional, seja como for…).
O seu filho pode começar a faltar à escola, não fazer os TPC’s ou começar a ficar muito relutante em ir para a escola. Ou relutante a falar sobre como estão as coisas na escola.
O que está a acontecer é que tanto as tarefas escolares como a assiduidade deixaram de ser uma prioridade. - Atividades Sociais – Muitos adolescentes que podem estar a passar por uma fase de problemas com o álcool, podem de repente parar de manifestar interesse por actividades que costumavam gostar, dentro e fora da escola. Podem afastar-se de equipas a que pertenciam, clubes que tinham, actividades em que participavam com regularidade, sem que exista nenhuma razão aparente.
- Alterações de Humor – Pode perceber que seu filho está muito mais retraído, não quer falar consigo ou com outros membros da família ou talvez até mesmo ter actos hostis, consigo ou com a família e amigos. Também pode haver sinais de depressão ou ansiedade.
Se tem notado mudanças como estas no adolescente que tem em casa– mesmo sabendo que a adolescência é caracterizada por mudanças súbitas de estados de humor – tente ajudar o máximo que puder. Converse. Se ele resistir, tente encontrar alguém adulto em quem ambos tenham confiança, para que se possa esclarecer o que se está realmente a passar.
Procure sempre ajuda. O importante é não ficar fechado com os “ses” e os “mas”, que não levam a lado nenhum, mas que podem, se a situação for de facto esta, levar a uma progressão completamente desnecessária. Nunca se esqueça: o alcoolismo é uma doença. Afinal, sempre levou o seu filho ao médico quando ele tinha dores de garganta, barriga, gripe ou se magoava na aula de ginástica.
Isto não é diferente: aos primeiros sintomas, procure ajuda profissional. Existem médicos e soluções para cada doença.