A ilusão de ter, de usufruir, de poder (poder comprar, poder ter e usufruir, poder no sentido de domínio e afirmação) generalizou-se. E tanto faz se o que se tem é o Pokémon virtual, a cara sorridente aprisionada numa selfie, ou o território onde os poços de petróleo permitem outros domínios.
Incapaz de gerar ideologias, o mundo ficou-se na prisão de grades inquebráveis do capitalismo – e, para manter esse calabouço onde se encerra voluntariamente, promove guerras, destruição e morte, sabendo que bombardear uma localidade equivale a reconstruí-la algum tempo depois, erguendo novas estruturas, dos grandes centros de comércio aos enormes cemitérios que promoveu algum tempo antes.
Há economias que apenas se mantêm graças à guerra – os Estados Unidos da América são um paradigma por excelência dessa opção – e investem nela, normalmente em territórios fora das suas fronteiras, porque o sangue nas alcatifas custa muito a limpar.
Aqui na Europa já sofremos as consequências dessa ilusão, na primeira e na segunda guerras mundiais, na guerra da Bósnia, na desvalorização comum do homem perante as suas ambições.
Há sociedades onde hoje parece normal tirar a vida ao outro, na depreciação dolorosa do que temos de mais valioso. Essa cultura – do sórdido, do assassinato, do terrorismo, da guerra, do inumano – não é, no entanto, dos nossos dias: a história humana está cheia desses exemplos.
Não se trata, como alguns menos avisados disseram, de choques de civilizações – não há por exemplo nenhum choque de civilizações nos ramos comuns civilizacionais nascidos no médio oriente, ramos de um mesmo tronco histórico, religioso e cultural, e que agora se entrechocam.
E também não se trata de nenhuma guerra estritamente religiosa – nenhum assassino do DAESH está em luta contra nenhuma religião concreta e provavelmente de religião – ou de qualquer outra matéria preciosa – entenderá muito pouco.
Os homens matam-se e opõe-se por interesse – e muito menos por convicções profundas.
Quando vemos os assassinos do DAESH procurar impor as suas fraquezas ao mundo, entendemos logo como o fazem brutalmente, com uma violência final que nos amedronta, agradando aos seus investidores que não olham a meios para atingirem os seus fins.
É que esses assassinos agem em nome de interesses muito próprios e inquietantes, interesses forjados no ocidente e aplicados onde mais facilmente os cenários da imbecilidade ganham dimensão.
Com a hipótese, ainda remota, de uma vitória de Donald Trump, as coisas irão piorar. Porque Trump é um catalisador de frustrados e de frustrações, uma nódoa intelectual que pode ter o mundo nas mãos – e destruí-lo bastante mais.
Ensinar a disparar uma arma é coisa de segundos. Educar para a Paz é um trabalho de vida inteira – até porque o seu material essencial é esse mesmo, a vida.
Permitir a ignorância – e é espantoso como nos nossos dias sabemos tão pouco de história, de política ou de relações internacionais, só para dar alguns exemplos poderosos – conduz-nos às portas da guerra.
Muitos reclamam-na por desconhecê-la. Outros promovem-na, porque nos ignoram.
Este texto respeita as regras do AO90.