Andam as almas drapejando, a favor ou contra o vendaval que aí vai na Assembleia, preocupadas pela putativa duração do XX Governo Constitucional. Durará pouco? Uma eternidade, respoderia Francisco Fernandes Costa, que foi chefe do Executivo por um dia. Menos, aliás.
É dia 15 de Janeiro de 1920. A Europa recupera da I Grande Guerra. No Portugal da República com apenas dez anos os republicanos ainda não acertaram passo com isto da semi-democracia.
Francisco José de Meneses Fernandes Costa, nascido lá para a Lousã a 19 de Abril de 1857 era um insigne jurista e activista do Partido Republicano Português. Tal como hoje aconteceu à esquerda portuguesa, em que da união se fez a desavença, partindo partidos em novos movimentos e dissidências, também naqueles tempos o perfil era igual.
Este nosso herói, neste 15 de Janeiro, já tinha ido de Bloco em Livre, de Livre em Agir, ou, melhor e mais correcto: do PRP ao Partido Evolucionista, depois ao Partido Liberal Republicano e ainda fez parte do Partido Republicano Nacionalista. Em todos foi militando entre 1908 e 1911.
Que importa isso agora? Porque a memória nos traz a bizarria do momento histórico, muito mais animado que este Outonal 2015.
Francisco Fernandes Costa, que foi o primeiro e único Grão-Mestre do Grande Oriente Português, aceitou, sabe-se lá porque grande ímpeto nacional, presidir a um Governo. Era a Pátria, a República, a Ética que fervilhava. Era a sua vez. Nessa manhã de mil nove e vinte, como então se dizia, foi oficialmente nomeado para as funções de presidente do Ministério, mas obrigado a demitir-se no mesmo dia, sem tomar oficialmente posse, naquele que ficou conhecido como o “Governo dos Cinco Minutos”.
Conta o historiador João Ferreira, de quem se rouba agora a palavra: “Fernandes Costa demitiu-se nesse mesmo dia, depois de ter sido ameaçado e enxovalhado, juntamente com os seus ministros, por uma multidão atiçada por dois conhecidos agitadores ligados à «Formiga Branca», o braço armado do Partido Democrático : o «Ó Ai Ó Linda» e o «Pintor».
Chamada a intervir, a GNR – recentemente reforçada em homens e equipamento e entregue à chefia de militares radicais para compensar a influência conservadora no exército – não mexeu uma “palha” para proteger os ministros. Perante a passividade daquela força militarizada, Fernandes Costa, que se encontrava com os outros membros do governo na Junta do Crédito Público, no Terreiro do Paço, à espera de seguirem para a tomada de posse, em Belém, quando o edifício foi invadido pelos manifestantes, esperou que os ânimos acalmassem. E, tal como estava combinado, foi ter com o presidente António José de Almeida ao palácio de Belém – já não para tomar posse mas para lhe apresentar a demissão”.
Em suma, sem “ai ó Linda” ou “Pintor” que lhes tivesse feito frente, o XX Governo Constitucional, depois de 1974, pouco terá que se queixar pela sua duração. Francisco Costa, esse, ainda viria a ser repescado para ministro do Comércio (1921) e ministro da Agricultura (30 de Agosto a 3 de Setembro de 1921). Sóis de pouca dura, também, mas sem algazarra.
Faleceu na Figueira da Foz a 19 de Julho de 1925, sem tempo de ver o académico de Coimbra
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