Na Avenida do Uruguai há momentos que se encontram para lanchar, há tempo para recapitular, há amor e renúncia, há um homem que ama outro homem.
Na Avenida do Uruguai circulam autocarros no meio de Lobo Antunes e outros operários das palavras, há cafés onde se toma champanhe com leite quente, e há pássaros que parecem poetas.
Na Avenida do Uruguai merece calma, a paz.
Na Avenida do Uruguai são bons os encontros quando o sol agoniza e chega-se a perder o apetite quando chove e as meninas não se podem passear.
Na Avenida do Uruguai as passadeiras são muros de optimismo. Pisam-nas, sobem-nas e descem-nas pessoas que giram e faíscam em torno de apertos de mão, beijos delicados e amabilidades: – Saúde vizinho! – Deus a proteja!
Na Avenida do Uruguai ninguém encontra o dia anterior.
Na Avenida do Uruguai a vida substitui os contadores de histórias.
Na Avenida do Uruguai, esta madrugada um rapaz, frágil de condições, indiferente ao futuro, pôs a mãos na cabeça e voou como uma mala do 10º andar.
A Avenida do Uruguai é um teatro.