Nunca se entenderam.
Ela chamava-o ora mau, ora cómico.
Ele pouco se ralava, agia por instinto, achando que circulava na região dos génios.
Aquele bar punha-lhe o coração a dançar dentro do peito.
Para ela, as glórias dele, as suas riquezas intelectuais, eram a sua profunda miséria.
Tanto desentendimento, tanto violar dos botões da sua blusa, originaram, naquela noite, mais uma acesa discussão.
Ela, aos amores ainda os suporta, às ilusões é que não.
Ele, cansado de tanta reprimenda, foi para o meio da rua e com o coração vacilante tomou a direcção do bar onde podia espalhar desassossegos e partilhar a importância das ansiedades.
Ela bem lhe gritou da janela «não faças isso outra vez»!
-Não te mexas daí até eu chegar!
E toda a cidade assistiu a uma correria louca.
Ela, e só ela, como se não tivesse um único amigo no mundo que a ajudasse, perdeu a noite e um pouquinho da manhã a tentar alcançá-lo.
Agora, se quiser de volta o coração do homem, terá de ir caminhando até lá, onde ela sabe estar acolhido.
A memória desse ninho diz-lhe uma coisa, o orgulho outra, quem cederá?