Esta é uma das conclusões de um estudo sobre preocupações e motivações dos professores (Fundação Manuel Leão) coordenado por Joaquim de Azevedo, antigo secretário de Estado da Educação e actual investigador da Universidade Católica. Nas conclusões da investigação, Joaquim de Azevedo diz:
“É como se um pessimismo endémico tivesse tomado conta da educação escolar”.
Este pessimismo generalizado tem razões de ser que não podem cair no esquecimento. Ele deve-se, sobretudo, à orientação da política educativa entre 2005 e 2009 seguida pela Ministra de Educação de então, Maria de Lurdes Rodrigues (MLR). Na verdade, aquela que alguns sectores “bem pensantes” da capital consideram a melhor Ministra da Educação foi, em meu entender, a pior, a que conseguiu destruir quase na totalidade o sistema de ensino e reduzir à insignificância uma classe profissional.
Juntamente com isso, afastou excelentes profissionais que se viram obrigados a sair (à medida que diminuíram as turmas e aumentou o número de alunos em cada uma delas) e a procurar outra profissão. Os números são bem explícitos: em 2014/15 havia menos 42 mil professores comparativamente com os 10 anos anteriores. A outra herança que MLR deixou foi o envelhecimento da classe docente: neste momento, só 1,4% dos docentes têm menos de 30 anos.
Esse tempo, de que hoje somos herdeiros, foi um período “negro” nas escolas portuguesas. Essa escuridão ainda hoje se faz sentir: antes de mais, pela anulação do trabalho do professor reduzindo-o a um burocrata que preenche fichas e se desgasta horas e horas em tarefas inúteis. A função pedagógica foi desvalorizada em prol das “evidências”, “das grelhas”, “dos números”. E o tão enaltecido sistema de avaliação mais não fez do que piorar o que já não estava bem. Contribuiu apenas para dividir, para alimentar tudo o que há de mais negativo, a competição, a inveja e a subserviência. Além disso, tornou-se completamente inútil dado que a carreira docente se encontra congelada.
Para quem tem a memória mais esbatida, lembro só alguns factos desses anos: encerramento de escolas e a construção de mega centros escolares/agrupamentos, a aprovação de um “estatuto do aluno” favorecedor do facilitismo e da indisciplina, a criação das “novas oportunidades” que, partindo de uma ideia generosa, em breve se tornou na mera obtenção de diplomas sem o corresponde ganho em conhecimento ou em competências. Tratou-se de usar a educação para fazer expandir negócios de amigos, de que a Parque Escolar é o melhor exemplo.
Mas, sobretudo, a grande estratégia foi a da desvalorização da função docente. MLR usou a humilhação como arma política. E, nisso, diga-se, teve um excelente apoio de parte significativa da comunicação social.
É sobre estas ruínas de um edifício destruído que hoje, nas escolas do ensino público, se trava a batalha diária dos/as que não desistem da educação.