Há vícios comportamentais que perduram no tempo e por mais licenciados ou doutorados que o país tenha, o modo de estar na vida não muda.
Amiguismo
Encontrar emprego para a família ou amigos é uma espécie de desígnio nacional que os portugueses perseguem com afinco e esperteza. Isso reflecte-se na qualidade dos políticos que temos, mas também se nota noutras esferas de acção, nomeadamente nas empresas públicas onde existem agregados familiares inteiros ali vinculados profissionalmente. Nos privados o fenómeno também se nota, mas aí o problema é do dono da empresa e não tem custos para o erário público.
O amiguismo e o clientelismo infectou as elites ligadas ao Poder e nenhum partido político escapa a esta doença. As juventudes partidárias e os clubes de acesso restrito servem de estágio para filhos e enteados de ministros, generais e bispos até surgir a oportunidade de trepar.
Um bom patrono partidário encaminha os seus pupilos durante anos, ensina-lhes os truques utilizados para imiscuir negócios na política e vice-versa, empurra-os escada acima até às comissões políticas, às secretarias de Estado, aos ministérios, às organizações internacionais.
Sempre que penso nisto vem-me à lembrança o amparo dispensado pelo dirigente do PSD e empresário Ângelo Correia, durante anos e anos, a Pedro Passos Coelho… No meio disto, pouco importa se o putativo executivo é competente ou sequer inteligente. Basta que seja esperto e tenha aprendido bem as lições dispensadas.
Moralizar
Moralizar a política tem sido uma promessa eleitoral sucessivamente quebrada, a tal ponto que o eleitorado já não presta atenção a discursos ocos e há cada vez menos gente a votar. O chamado critério da “confiança política” tem servido de capa para conluios entre amigos e clientelas políticas e, é evidente, nestas circunstâncias, torna-se difícil ter governantes capazes, sinceramente empenhados no serviço público e no bem comum. Problema que afecta a governação em todos os níveis, das freguesias ao governo central.
Acredito que esta é uma das razões de Portugal ser desde há décadas um país de emigrantes. Porque fugir disto pode ser, por vezes, a única solução encontrada pelo cidadão para ter oportunidades de trabalho, de sucesso, uma vida digna. O resultado imediato é que a competência nacional não vive aqui… o que é uma desgraça.
Mudar o enquadramento acima descrito é obrigação dos governos, mas em especial de um governo como o actual. Ser de esquerda não é só regredir privatizações manhosas, suspender o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde ou da rede pública escolar. Isso é aquilo a que poderemos chamar de serviços mínimos de um governo de esquerda. Mas nós precisamos de mais.