E, assim, aquilo que considerámos impensável, os “muros da vergonha” voltaram a proliferar no século XXI. Expressando uma total insensibilidade e desprezo pelos seres humanos, os governantes europeus, asiáticos e americanos abatem navios, erguem muros, expulsam das cidades.
Nunca o mundo (que é cada vez mais global…) esteve tão dividido! Desde 1998 que foram instaladas 30 “barreiras” destinadas a humilhar e a causar irreversíveis danos físicos e psicológicos a quem luta pela sobrevivência. Vivemos num tempo em que se instalou a crueldade do arame farpado!
A fronteira entre a Grécia e a Turquia, entre os Estados Unidos e o México, entre a India, o Paquistão e o Bangladesh, o muro que Israel construiu à volta da Palestina (que separa terrenos de uma mesma família…) e à volta do Egipto, os muros erguidos na Hungria e na Bulgária, a “muralha” de Melilla, são apenas alguns dos (maus) exemplos. Sobre esta última barreira disse o bispo espanhol Santiago Agrelo Martinez: “as vedações com arame farpado em Ceuta e Melilla são um ataque à integridade física dos imigrantes, porque as farpas cortam, ferem e mutilam (…)” Mais recentemente, em Calais, começaram as obras para a construção de mais um muro, orçamentado em cerca de 2,7 milhões de euros e cujo objetivo é impedir o acesso ao porto da cidade.
Infelizmente esta “solução” faz-nos lembrar uma outra não muito distante no tempo quando, na Europa, alguém quis que “eles” fossem exterminados. Nesse caso, “os outros” eram os judeus mas também os comunistas, os homossexuais, os ciganos, os velhos e os doentes. Num caso e noutro, consideram-se esses seres humanos inferiores, “coisas descartáveis”. É a barbárie e a crueldade a regressar. Como se o humano incluísse apenas um “nós” superior, dono da verdade e do mundo.
Assim entendido, esse “nós” é, na realidade, a materialização da maldade humana.
Tanto ódio, tanta cegueira perante o sofrimento dos outros, não poderá conduzir a bom porto! Quando seremos capazes de deter as “farpas que mutilam”? É que ontem já era tarde!