
Quando eu era criança, em férias escolares na cidade de Lorena, encontrei um livro sobre os milagres de Nossa Senhora de Aparecida.
Achei maravilhoso o poder da fé, embora não haja religiosidade dominante (que eu tenha detectado) na minha família. Falo da fé no sonho, muito estimulada pelos livros desde o início.
Sim, nasci cercada de livros, ouso dizer que havia estantes na casa de quase todos os familiares.
Lembro-me da estante imensa na casa da minha avó, escritora e historiadora, por isso tantos e tantos livros.
E me lembro, com carinho igual ou maior, da estante do meu avô, porque ele era meu padrinho de batismo e costumava me presentear com livros da sua pequena estante, alojada no “barracão” – seu quarto nos fundos da espaçosa casa em que morava com minha avó, Cora.
Opção De Sequência 1: O nome dela estava logo à entrada da casa, escrito no gradil de uma janela de ferro; por outro lado, o nome da minha avó primeira, de quem ele enviuvara, estava tatuado no seu peito. O coração flechado, sangrando e desbotado pelo tempo, sempre me pareceu tão exposto quanto a grade na janela da frente.
Opção De Sequência 2: Cito dois títulos (que ganhei do meu avô, me repetindo para ser plenamente compreendida): “Fumaça” (Ivan Turguêniev) e “O profeta” (Gibran). Só aqui, temos um russo e um árabe.
Sem falar do mineiro de Ouro Preto, o meu avô (voltando à história que comecei a narrar no quinto parágrafo), ex-prefeito da cidade, que ostentava nome e sobrenome composto — algo como a linhagem que Gabriel García Márquez descreve em “Cem anos de solidão”, obra-prima da literatura latino-americana.
Interrupção 1: O mais incrível (como no romance que deu origem ao realismo fantástico) é que os dois lados da minha família (pai e mãe) têm sobrenomes ilustres.
Interrupção 2: Eu tenho insônia grave, como a Remédios (personagem do livro), e tomo medicação para dormir desde que o meu pai morreu. Estou acordada agora, escrevendo…
Final:
Falei da santa, dos milagres, da família — como qualquer outro poderia ter falado — e não falei da PEC 241. Paciência, o fundamental foi dito pelo Negro Belchior na primeira linha desse artigo.
A autora escreve em português do Brasil