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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

Amor De Marginais

Eduardo Águaboa
Eduardo Águaboa
Escritor, Ensaísta, Comentador político especializado em ideias gerais

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Um dia, por razões que ainda estavam por dar à luz, separaram-se. Num adeus sem equilíbrio, como uma ave perdida na noite.

Passados meses, ele, precisamente na data em que comemora a separação, e comemorava-a sem alegria, antes servia de recuperar memórias, divulgou aos amigos mais íntimos uma carta que recebeu dela oito dias depois dela ter partido para Montevideu, sua terra natal.

Dizia-se nessa missiva que ele lia todas as noites e às vezes até ao levantar-se:

– Bem sabes que gosto dessa tua carinha onde olhos, boca, nariz, orelhas e até a desordem dos cabelos parecem obra de uma estrela perfeccionista, mas és afeiçoado a coisas pirosas.

Bem sabes que tenho o feiticismo dos nomes e o teu enlouquece-me… é viril, brônzeo e tem algo de italiano. Sabes? Quando o pronuncio corre-me algo pelas costas e aquece-me a garganta, apesar do teu cheiro de quem toma banho uma vez por mês.

Naquela alegria de pintassilgo a celebrar o sol de Lisboa, ficava com as defesas desbaratadas quando me cantavas as vias possíveis para ser tua amante, a tua vontade que fosse tua, só tua, mas via-me sempre de joelhos, cercada, mais tarde ou mais cedo, pela solidão, pois não se podia acreditar em ti, nem por decreto.

Ai como me souberam bem esses jantares contigo, nessas tascas com mesas de pinheiro e cadeiras coxas, mas que te ajudavam a assumir balanços e gestos canalhas, sem te preocupares sequer em dar a impressão que se tratavam apenas de uma troca de sinais misteriosos.

Todo tu pareces uma desarrumação a precisar de ser limpa, mas nem de calças mudavas de dois em dois meses, apenas porque querias parecer rebelde, embora sem causas, mas aí desejava-te com todas as bocas do meu corpo.

Até que um dia, naquilo que tu consideraste o teu top ten das coisas simpáticas, olhando-me com ar de coleccionador, lançaste-me até te cansares, uma frase bailarina, muito twist e muito tango; Amo-te meu amor, meu colibri!!!

Foste sincero.

Só que não sabias, meu querido, que para mim, um homem enamorado fica praticamente riscado do número dos vivos.

No mínimo ponho-os de quarentena até lhes passar a doença.

Que pena.

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