“Não há provas daquilo que nunca aconteceu”
Em Vila Real, José Sócrates disse ter sido preso com o objectivo de ser isolado do país. “Não conseguiram”, afirmou como se estivesse prestes a abraçar um novo desafio na vida política. Além de esgrimir mais uma vez a sua defesa, Sócrates aplaudiu a solução de governo PS apoiada pelo BE, PCP e PEV e desejou “boa sorte” a António Costa.
Palavras prévias perante um auditório cheio: Venho aqui à minha terra para agradecer o vosso apoio num momento tão difícil da minha vida”, disse aos presentes, para logo atacar a justiça que o prendeu. “Desde o primeiro momento que me apercebi que um dos objectivos da prisão era isolar-me do país. Pois, chego aqui a Vila Real com a sensação que não conseguiram. Não conseguiram afastar-me do sentimento e do coração de tantos que ao longo da minha carreira política me apoiaram”, disse Sócrates.
E embora tenha falado mais tempo sobre a actualidade política e europeia, não poupou duras palavras sobre a questão central que o move: “detiveram-me e prenderam-me há um ano e disseram que tinham provas contundentes e definitivas. Um ano depois não as apresentam, não apresentam a acusação, não cumprem sequer os prazos do inquérito”, acusou. E respondeu também: “não apresentam provas porque nunca as tiveram, porque não há provas daquilo que nunca aconteceu”, disse sobre o processo Marquês, no qual é o principal arguido indiciado por crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Boa sorte ao governo de António Costa
O ex-primeiro-ministro socialista, que falava em Vila Real à hora em que ainda decorria a Comissão Nacional do PS, em Lisboa, saudou a opção do PS pelos acordos com os partidos de esquerda. “Vivemos por estes dias um tempo inovador em que se anuncia um novo governo para o nosso país. É o começo de um novo começo”, disse. E sem nunca citar nomes, Sócrates enviou palavras de ponderação aos críticos e de apoio a António Costa. “Pese embora muitos poderem ter objeções, muitos poderem ter legítimos receios, pese embora muitas reservas, é nosso dever desejar a este novo anunciado governo boa sorte na governação”, acrescentou.
E Sócrates repetiu frases que ainda há poucos anos faziam parte dos seus próprios discurso políticos. “O que se espera deste novo governo é ter um que volte a ter um projecto de modernização e ambição para o nosso país. “O que eu desejo a este novo governo de esquerda em Portugal, é que restaure não apenas uma visão mais de esquerda na Europa mas que restaure em Portugal um discurso sobre a Europa mais centrado na igualdade”.
José Sócrates aproveitou ainda o momento político para atacar o governo de Passos Coelho. “O país precisa de um novo governo que vença a miopia dos últimos quatro anos. Para vencer a resignação, uma espécie de penitência e expiação”, disse José Sócrates.