Se não quiserem passar pelo que me aconteceu na tarde de 28 de Abril de 2016, tenham sempre em conta a frase do escritor Mark Twain: “Nunca discutas com uma pessoa burra. Ela vai arrastar-te até ao nível dela e vai vencer-te por ter mais experiência em ser ignorante”.
Foi mais ou menos assim.
Estava num táxi que saía do Sanatório para o Kalemba II. Era um velho Toyota Starlet de duas portas. Contando comigo, havia sete ocupantes. O motorista e o pendura, como é óbvio, seguiam nos bancos de frente. Nas traseiras, eu seguia ao meio, ladeado à esquerda por um senhor com cara de tudólogo. À minha direita, viajava uma senhora tão velha e desleixada que me custou acreditar que era a mãe dos dois meninos que levava ao colo.
Quando o táxi fez a bolacha que dá para o Kimbango, deixando para trás a estrada que sobe para a Igreja Tocoísta, apareceram aqueles moços que zungam água fresca, gasosas e outros mambos. A senhora do meu lado direito, ao contrário do que um gajo pensava, chamou pelo moço que vendia Cuca em lata. Comprou duas cervejas. Bebeu a primeira num único gole. Quando abriu a segunda, como os putos não paravam de chorar, a kota bebeu lá só um cochito, distribuindo o resto do lúpulo pelos canucos.
O mais novo bebeu a cerveja como se estivesse a mamar, produzindo um som que me confirmou que não era a primeira vez que o fazia. “O álcool faz mal às crianças, minha senhora”, disse eu na esperança de os outros ocupantes concordarem comigo. Mas estava enganado. Os outros passageiros, não só me acusaram de aparecedor, como também se puseram a gargalhar quando a senhora me perguntou se tinha sido eu quem a tinha ajudado a criar os outros seis filhos.
O senhor com cara de tudólogo, olhando desdenhosamente para o exemplar de Crime e Castigo que eu levava nas mãos, apelidou-me de “miúdo sem juízo”. O motorista criticou-me por desconhecer “os benefícios da cerveja no desenvolvimento do corpo dos humanos, sobretudo das crianças”.
Durante o resto da viagem, estive calado, mas os meus colegas de táxi retomaram o tema da cerveja 250 vezes, dizendo disparates que roçavam alternadamente o absurdo e o anedótico. Quando desci do carro, tive a certeza de algo que sempre desconfiei: a porquice não é uma qualidade exclusiva daqueles mamíferos quadrúpedes.
O autor escreve em PT Angola