Alfama é Alfama, ruas estreitas, prédios com prédios, roupa pendurada nas janelas entrando pela casa do vizinho da frente. Qualquer espaço a mais é de pronto arrebatado para casa de pasto e cantoria. Que bom!
No último fim-de-semana fiz algo que já há algum tempo não fazia. Sair à noite. Actualmente quando penso nisso, fico sempre a pensar se vale a pena. Mas neste caso, a ideia inicial era só um pequeno passeio e ao final do dia, por isso não tive de pensar muito. Afinal, foi mais que isso. Uma total experiência. Descoberta mesmo.
O extraordinário, é que gostei, gostei muito. Aliás, nem memória tenho de ter saído à noite e ter gostado tanto. Não creio que consiga indicar o que gostei mais. Não foi só uma coisa mas todo o conjunto. A companhia, claro, era muito boa (não queria nenhuma outra). Não vou dizer mais que isto sobre a companhia. A ideia é falar da saída como um todo e não de cada uma das coisas em particular.
Melhor, vai ser necessário falar das pequenas coisas, pois são estas que perfazem, no seu todo, a avaliação da noite, e consequentemente a saída nocturna.
Saída à noite
Recomeçando. Saída à noite a Lisboa, mais concretamente a Alfama.
Companhia, muito boa. Check. A noite estava fria, mas nada que uma mantinha pelos ombros e pescoço não desse conta. O trânsito era muito. Mas sem hora marcada ou horário para cumprir, tudo se releva.
Que falta? Estacionar! Sim o estacionamento não é fácil. Mas depois de umas quantas voltas, lá foi possível deixar o carro bem perto do destino. Mas o destino não estava fácil de encontrar. Sim, as obras em Lisboa também estão para durar em Alfama. Um dos acessos ao destino está vedado, ficando apenas, o pequeno largo acessível de um lado de Alfama.
E pelos visto, também não está fácil de dizer… Mas vai ser agora, embora os mais atentos já o saibam.
Tasca Beat
A Tasca Beat do Rosário, pequena tasca, muito típica, de petiscos, bar variado e muita música. Da boa. As pessoas muito simpáticas e calorosas. Recebem-nos como se nos conhecessem há muito e estivessemos em casa. Uma das coisas que me agradou. E me fez sentir como parte da família e estando num lugar conhecido e muito familiar, embora tenha sido a minha primeira ida à Tasca.
Ainda na rua, sem ter chegado ao Largo do Rosário, já se ouvia cantar o fado. Afinal estava em Alfama e Alfama é o Fado.
Uma das coisas que gostei foi o facto de, à hora que era, já estar aberto e a funcionar em pleno. As horas? Ah sim, pois, passava pouco das 7 da tarde. E já havia pessoas à porta, nas escadas do largo, e claro, dentro do estabelecimento. Creio que a maioria seriam turistas. Mas todos pareciam estar muito satisfeitos. Copos na mão, brusquetas nos pratos, chouriço em chamas ao chegarem às mesas para acabarem de assar junto de quem o vai comer… Eu. E o pão que o acompanha, muito bom. Fez-me lembrar o pão caseiro saloio de quando era pequena. Outra coisa boa.
Música
Alfama é fado e fado é Alfama. Repetição. Mas neste caso tem mesmo de ser. E os fados que nos foram propocionados eram variados. Assim como os intérpretes, todos acompanhados apenas por uma guitarra. E o que é curioso na Tasca Beat é que os fadistas são de várias nacionalidades. Portuguesa, sem novidades, brasileira, ainda é da familia lusófona. Mas a francesa, dessa, não estava à espera. E foi deveras interessante. A Marie, a cantar, nem se notava qualquer vestigio de França. A falar, já se notava, mas não o suficiente para uma pessoa que só chegou a Portugal há dois anos. Do Jean Marc não se pode dizer o mesmo, o fado com pronúncia francesa é interessante.
O Afonso e a Marta, com estilos diferentes, mas muito bem (não me alongo pela crítica musical – o que sei, não mo permite fazer – apenas que gostei, diverti-me e isso chega-me) e , sem pretensões, atentos à música e à sala. Pois são eles que atendem os clientes quando não estão a actuar. Fazem-no à vez. Mas tudo bem orqueStrado, quando um canta os outros estão ao balcão (sim, também estou a contabilizar a Marie e o Jean Marc) e assim se vão organizando ao longo da noite. Mas também há momentos sem cantares ao vivo.
Um aparte, a Marta é a vocalista dos OqueStrada e só por isso, é garantia de qualidade, fazendo da tasca um lugar a visitar.
Fadiagem
Estava a esqucer-me do fadista brasileiro, de quem não sei o nome. Neste caso o fado teve sotaque do Brásiu (para obrigar a ler com sotaque brasileiro). Fiquei na dúvida se era cliente ou não. O que é certo é que qualquer pessoa que lá esteja e embrenhada no espirito, pode cantar se essa for a sua vontade, ou recitar um poema do seu agrado. Ou, se de alguma forma vier em seguimento de um fado. Caso que se deu. Um cliente (este tenho a certeza) de recitar poemas, e todos se calaram porque se ía dizer poesia.
É assim que a fadiagem ganha forma e muita vida. Segundo a definição da Tasca Beat, a Fadiagem é a junção entre as Fadistagens de antigamente e a Vadiagem de sempre. Patente da vossa casa, acrescentam. Acontece todos os domingos, das 17h às 24h. Vale a pena. Por mim falo, se me voltarem a desafiar para lá voltar, não tenho dúvidas. Lá estarei.
Regresso a casa
Foi muito calmo, sem trânsito e com uma enorme satisfação. Música calma, ao som da smooth. Bom. E ao passar no Terreiro do Paço com a árvore de Natal iluminada a lembrar a época que se aproxima. E ao fundo, a Rua Augusta deixar-se ver através do arco. Não podia pedir mais.
Feitas as contas. Check and approved a tudo: companhia, tempo, lugar visitado, contemplado a comida, bebida, música e ambiente e o regresso a casa.