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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

As desvantagens de viver no musseque

Onélio Santiago, em Luanda
Onélio Santiago, em Luanda
Bacharel em Ensino da Língua Portuguesa pelo Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, é jornalista do semanário angolano Nova Gazeta.

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Ainda assim, há mambos que acontecem nos musseques que, defactamente, contado, ninguém acredita. Por exemplo, quando bazo num condomínio ou numa destas centralidades que estão a bater, noto que os vizinhos raramente se caxicam na casa dos outros por causa dum jogo de futebol.

Já nos musseques, se tens uma parabólica e pagas sempre aqueles ‘pacotes’ de mais de oito paus, estás paiado! O teu cubico fica já tipo a ‘casa da mãe Joana’. Qualquer buluzento que está a passar na rua, mesmo que nunca lhe deste confiança, basta ouvir os gritos de alguém a festejar um golo, vem já também “quem marcou?”, “quem marcou?”.

E o mais agravante é que há casos em que os vizinhos, só porque te viram crescer, acham já que podem dar ordens no teu cubico. Por exemplo, uma vez, um gajo estava a ver um documentário sobre o ateísmo e três kotas da banda apareceram para ver Girabola. “Ó miúdo, mete jogo, mete jogo!”, enquanto um dizia isso, os outros dois davam-me palmadas nas costas. Aceitei só já.

Mas o caso mais irritante aconteceu no mês passado, quando houve aqueles jogos de qualificação para o ‘Mundial da Rússia’. Um vizinho, mais ou menos da minha idade, avisou os meus putos para não dormirem cedo, pois Brasil jogaria contra a Argentina de madrugada. Combinaram então, sem eu saber, que o vizinho bazaria no cubico às 23 horas e lá ficaria até o jogo começar. Quando cheguei à casa, vindo das bumbas, os putos já estavam a dormir. Uma hora depois, ouvi batimentos no portão. Soube logo de quem se tratava, mas lhe marquei barra. Fiquei tipo nada. “Vais rir”, pensei silenciosa e malandramente.

Depois de um tempo, os batimentos começaram a vir da porta da varanda. Fui lá espreitar e vi o tal vizinho com o lençol dele nas mãos. O gajo tinha pulado o muro. Gritei com ele e até lhe queixei no tio dele, mas o gajo não desiste de ver jogos no meu cubico. E ainda por cima não somos da mesma equipa!

Como já vos conheço bem, deixo aqui um aviso: no Domingo, haverá futebol, mas ninguém vai só no meu cubico: vou esconder o cartão da parabólica.

O autor escreve em PT Angola

Nota do Director

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