Mas enfim, acho que teve um papel fundamental para a Democracia portuguesa e isso compensa tudo o resto.
Detestei-o quando no final de uma campanha eleitoral ele foi à RTP para o último debate com os outros candidatos… havia um do PC, outro do PSD (não me recordo quem eram) e havia Basílio Horta e Mário Soares. Fui ao estúdio fazer um daqueles directos inúteis (já se faziam nessa época) para fechar o Jornal das 9 (canal 2) com uma espécie de “teaser” a propósito do debate que iria acontecer dali a minutos no canal 1. Tinha 1 minuto para aquilo e não era possível dar a palavra a todos, nem era essa a intenção. Fiz uma pergunta ao candidato considerado o mais provável vencedor daquelas eleições e Soares recusou responder se não fosse dada a palavra a todos os outros.
Foi uma daquelas cenas demagógicas em que ele era mestre. Não gostei mas, ainda assim, acabei por votar nele. Se bem me lembro, votei nele duas vezes. Em 1986 e em 2006. Na primeira vez votei por convicção, na segunda por exclusão de partes mas, também, pelo respeito que me merecia este “mais velho”, ainda lutador aos 81 anos.
O que ele disse, naquela dia na hora da última derrota com que terminou uma brilhante carreira política, foi uma espécie de lema que acabei por adoptar devido às minhas próprias circunstâncias: “só é derrotado, quem desiste de lutar.”
Anos depois, creio que em 2009, Soares participou num Prós e Contras na RTP… programa dedicado ao tema “Pensar Portugal”, com quatro senadores da República no palco e uma plateia composta por jovens alunos universitários.
Às tantas, um diálogo mais ou menos assim:
“A liberdade de expressão plena é uma conquista de Abril que muito nos orgulha”… dizia Fátima Campos Ferreira… o que fez com que o velho senhor, Mário Soares, argumentasse, um pouco depois… que “a concentração da comunicação social foi feita e está na mão de meia dúzia de pessoas, de grupos económicos… e isso é complicado, porque os jornalistas têm medo… os jornalistas fazem o que lhes mandam, em regra geral. Não quero dizer que não hajam honrosas excepções, mas a verdade é que fazem o que lhes mandam, porque sabem que se não fizerem, por uma razão ou por outra são despedidos e depois não têm para onde ir. É por isso que nós vimos que muitos jornalistas, dos mais notáveis que apareceram depois do 25 de Abril, já deixaram de ser jornalistas… fazem outras coisas, são professores de jornalismo, são professores de outras coisas…”
– Mas onde fica aí a liberdade de expressão?, pergunta ela, com aquele ar surpreso que só uma mulher cínica sabe fazer.
– Fica mal… fica mal, como nós sabemos.
Pois sabemos.