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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

Uma figura de referência do universo da língua portuguesa

Carlos Fragateiro
Carlos Fragateiro
Professor Universitário

Otto Glória, o treinador da selecção portuguesa, diz aos jogadores durante o intervalo do Portugal-Coreia no Mundial de Inglaterra de 1966:“não quero saber de vocês para nada, desenrasquem-se!”, e, como sempre, quando os portugueses se têm de desenrascar conseguem-no. Esta é uma lição que o futebol nos soube dar como ninguém.

Eusébio tinha em campo o rigor matemático como desenvolvia as jogadas já muitas vezes experimentadas, uma capacidade única de surpreender com os dribles e com os arranques imprevistos, a enorme beleza que traduzia o seu estar em campo, o movimento, a dança, a coreografia de cada passo, salto ou remate, a sua alegria contagiante e a cordialidade com que se relacionava com os adversários.

Contar a história de Eusébio é, para mim, contar a história de um jogo que, para gerações de portugueses ou de cidadãos do universo da língua portuguesa, foi um momento único da história do futebol; o jogo Portugal-Coreia do campeonato do Mundo de Futebol de 1966 em Inglaterra.

A história de Eusébio vive no interior deste jogo, potenciando ao máximo a tensão dramática que ele teve, a sua narrativa permite contar os momentos mais significativos da história de Eusébio e de Portugal dos anos 60: tendo como foco central o jogo Portugal-Coreia, será no seu interior que a história de Eusébio e de Portugal e do mundo desse tempo vai surgindo. Com uma questão sempre presente: até onde é que Eusébio pode chegar, até onde é que uma pessoa e um país com vontade e talento poderão chegar? Ao infinito.

Craveirinha
Ah, príncipes de pés descalços! Que dribles! Que corrida! A bola nos pés sempre em progressão para a baliza!

Todos

Golo! É do Eusébio!Craveirinha
Olha a cara dele. Tem o prazer do golo estampado no rosto. Nunca há-de ter uma paixão ou uma satisfação maiores.

A história de Eusébio, que teve como elementos centrais:

  • O seu crescimento como jogador ainda em Moçambique e a vinda para Lisboa onde chegou em Dezembro de 1960. Eusébio em Moçambique, criança prodígio, apaixonado pelo futebol, disputado entre os clubes nacionais e disputado pelo Benfica e pelo Sporting. Os assédios ao contrato, a entrega de dinheiro à mãe, D. Elisa, a estratégia de “rapto” para Portugal, a passagem com o nome de código de Rute, a chegada a Portugal e o esconderijo no lar do Benfica e depois no Algarve, o primeiro treino e a entrada em campo como titular.
EusébioOlheiro 1
Olha para ele. Olha para os olhos dele. Já viste o brilho que irradiam. Está ali tudo. A paixão pelo futebol está ali concentrada. É sincera, pura. Olha a felicidade dele a correr para a baliza.

Olheiro 2
Só isso me bastaria para perceber que estamos a ver jogar um génio.

Olheiro 1

Este miúdo que veio da Mafalala vai correr mundo. Nada nem ninguém poderá travar esta força.Craveirinha
Há homens assim…
  • A afirmação internacional que começa a 15 de Junho de 1961 em Paris, no Parque dos Príncipes, num jogo com o Santos que o Benfica perdia ao intervalo por 4 a 0. Eusébio entra em campo na segunda parte e marca 3 golos. Pelé dá-lhe os parabéns no final e o jornal L´Équipe refere-o no dia seguinte na primeira página. Uma afirmação que se concretiza a 2 de Maio de 1962 no Estádio Olímpico de Amesterdão, na final da Taça da Europa, onde o Benfica vence o imbatível e milionário Real Madrid por 5-3. Depois do apito do árbitro, o húngaro Ferénc Puskas corre para Eusébio, tira a camisola e oferece-lha. Di Stefano faz o mesmo. Eusébio guarda-a presa nos calções como uma relíquia, levando a de Puskas na mão;
  • A afirmação como referencial mundial do futebol dá-se quando foi considerado o melhor avançado da Europa/ jogador do mundo pelo France Footbal em 1965 e consolida-se com a sua prestação no Campeonato do Mundo de 1966, onde é o melhor marcador com 9 golos.

Príncipe de pés descalços

Olha e sente
Antecipa o movimento
Tens um corpo que não mente
Está atento
A bola é redonda, tão redonda
Tão redonda como a terra que habitamos
Tocá-la com prazer, estar na onda
Nos muitos, muitos golos que marcamos
Corta a passagem ao pequeno
Antecipa as jogadas, atenção
Não o deixes avançar mais no terreno
Marca o homem, dá a volta à situação
Arranca, corre, desmarca
Pára, finta, olha p´ro lado
Muda de ritmo, dispara
Estás totalmente isolado
Golo
Tens a visão do todo e a resposta imediata
No riso a ingenuidade dum menino
És sagaz, repentista, um foguete
Fintas como um grande bailarino

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