Otto Glória, o treinador da selecção portuguesa, diz aos jogadores durante o intervalo do Portugal-Coreia no Mundial de Inglaterra de 1966:“não quero saber de vocês para nada, desenrasquem-se!”, e, como sempre, quando os portugueses se têm de desenrascar conseguem-no. Esta é uma lição que o futebol nos soube dar como ninguém.
Eusébio tinha em campo o rigor matemático como desenvolvia as jogadas já muitas vezes experimentadas, uma capacidade única de surpreender com os dribles e com os arranques imprevistos, a enorme beleza que traduzia o seu estar em campo, o movimento, a dança, a coreografia de cada passo, salto ou remate, a sua alegria contagiante e a cordialidade com que se relacionava com os adversários.
Contar a história de Eusébio é, para mim, contar a história de um jogo que, para gerações de portugueses ou de cidadãos do universo da língua portuguesa, foi um momento único da história do futebol; o jogo Portugal-Coreia do campeonato do Mundo de Futebol de 1966 em Inglaterra.
A história de Eusébio vive no interior deste jogo, potenciando ao máximo a tensão dramática que ele teve, a sua narrativa permite contar os momentos mais significativos da história de Eusébio e de Portugal dos anos 60: tendo como foco central o jogo Portugal-Coreia, será no seu interior que a história de Eusébio e de Portugal e do mundo desse tempo vai surgindo. Com uma questão sempre presente: até onde é que Eusébio pode chegar, até onde é que uma pessoa e um país com vontade e talento poderão chegar? Ao infinito.
A história de Eusébio, que teve como elementos centrais:
- O seu crescimento como jogador ainda em Moçambique e a vinda para Lisboa onde chegou em Dezembro de 1960. Eusébio em Moçambique, criança prodígio, apaixonado pelo futebol, disputado entre os clubes nacionais e disputado pelo Benfica e pelo Sporting. Os assédios ao contrato, a entrega de dinheiro à mãe, D. Elisa, a estratégia de “rapto” para Portugal, a passagem com o nome de código de Rute, a chegada a Portugal e o esconderijo no lar do Benfica e depois no Algarve, o primeiro treino e a entrada em campo como titular.
- A afirmação internacional que começa a 15 de Junho de 1961 em Paris, no Parque dos Príncipes, num jogo com o Santos que o Benfica perdia ao intervalo por 4 a 0. Eusébio entra em campo na segunda parte e marca 3 golos. Pelé dá-lhe os parabéns no final e o jornal L´Équipe refere-o no dia seguinte na primeira página. Uma afirmação que se concretiza a 2 de Maio de 1962 no Estádio Olímpico de Amesterdão, na final da Taça da Europa, onde o Benfica vence o imbatível e milionário Real Madrid por 5-3. Depois do apito do árbitro, o húngaro Ferénc Puskas corre para Eusébio, tira a camisola e oferece-lha. Di Stefano faz o mesmo. Eusébio guarda-a presa nos calções como uma relíquia, levando a de Puskas na mão;
- A afirmação como referencial mundial do futebol dá-se quando foi considerado o melhor avançado da Europa/ jogador do mundo pelo France Footbal em 1965 e consolida-se com a sua prestação no Campeonato do Mundo de 1966, onde é o melhor marcador com 9 golos.