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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Cultura e Conhecimento

Carlos Fragateiro
Carlos Fragateiro
Professor Universitário

 

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Fotografia de Alexandre Pomar
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Cidadania

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Num tempo em que cada vez mais o mundo se move por jogos de interesses de corporações com lobbies, estratégias pré-delineadas e notícias falsas, precisamos de veículos de comunicação social verdadeiramente independentes

 

Editorial

Este é o segundo Caderno de Cultura e Conhecimento do Jornal Tornado com mais materiais que nos ajudam a aprofundar e a dar sentido a este modo tão especial de Ler o Mundo em Português. Se há umas semanas sistematizámos aqui os 5 princípios para uma Pátria da Língua Portuguesa, desta vez debruçamo-nos sobre os princípios e as capacidades de um Cidadão da Pátria da Língua Portuguesa.

E de que princípios estamos a falar?

Do rigor matemático, da capacidade única de surpreender com as ideias e as soluções imprevistas, a cordialidade com que nos relacionamos com os outros, sejam ou não adversários. Características que encontramos em Eusébio, e a que é importante acrescentar a luta pela Liberdade, como nos mostra o exemplo da resistente Alda Espírito Santo.

Ser cidadão da Pátria da Língua Portuguesa é ter memória, memória que atravessa todo o percurso do Ballet Stagium que já dançou a violência do Holocausto e a luta dos mineiros do Chile e o garimpo de ouro em Serra Pelada na Floresta Amazônica.

A resistência dos índios brasileiros em Kuarup e a ruptura artística e nacionalista dos modernistas de 1922, o futebol, a América Latina, Coisas do Brasil e Dona Maria 1ª, a Rainha Louca, e a resistência dos escravos nos Quilombos, a música brasileira popular de Chico Buarque a Elis Regina, de Dorival Caymi a Carmen Miranda, de Adoniran Barbosa e Quinteto Violado a Ary Barroso, de Milton Nascimento a Egberto Gismonti e Geraldo Vandré e a erudita contemporânea de Villa-Lobos, Cláudio Santoro, Almeida Prado e Ayrton Escobar, a literatura em “A Infanticida Marie Farrar” de Bertolt Brecht, em “Diadorim” de Guimarães Rosa, em “Os Estatutos do Homem” do poeta Thiago de Mello, e o teatro em “Navalha na Carne” de Plínio Marcos.

Neste mundo múltiplo e complexo o cidadão da Pátria da Língua Portuguesa tem também que ser capaz de viver entre mundos e de potenciar a riqueza dessas realidades muitas vezes contraditórias, tem de ir ter, conversar e dar-se com o outro e os outros, de se integrar em ambientes diferentes e de preservar, no fundo de si, o calor único que esta língua transporta, como muito bem nos mostra a Sylvie de Morais.

Com a consciência que precisamos de pelo menos duas línguas, uma de ancoragem psicológica, outra nacional e de ensino, quando as duas não coincidirem, para dar sentido e enriquecer a diversidade desta língua com tantas culturas e olhares, como nos explica o Corsino Tolentino

E, finalmente, deixar que as nossas maiores referências, sejam a de Camões ou Pessoa, entrem primeiro que tudo pelos ouvidos, pois, como muito bem nos diz o António Fonseca, a porta de entrada da paixão pelas histórias, pela poesia, pelo artifício da linguagem deve ser a oralidade.

Boas leituras.

Carlos Fragateiro, Editor do Cadernos Cultura e do Conhecimento

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