Índice
- Ler o Mundo em Português
- Princípios
- Corsino Tolentino: A língua e a qualidade do ensino e da cooperação
- Materiais
- António Fonseca e a aventura dos Lusíadas: Ser Ator é ficcionar o Mundo e propor essa ficção aos seus concidadãos
- Princípios
- Eles Fazem o Futuro
- Entrevista com Sylvie de Morais: Preservo no fundo de mim própria um calor tipicamente português
- Pilares, Pontes e Plataformas Para a Língua Portuguesa
- Oswaldo Mendes: Ballet Stagium O nome da dança no Brasil
- Mirna Queiroz: Pessoa A revista que fala a sua língua
- Cromos da Lusofonia
- A Liberdade passou por aqui
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Editorial
Este é o segundo Caderno de Cultura e Conhecimento do Jornal Tornado com mais materiais que nos ajudam a aprofundar e a dar sentido a este modo tão especial de Ler o Mundo em Português. Se há umas semanas sistematizámos aqui os 5 princípios para uma Pátria da Língua Portuguesa, desta vez debruçamo-nos sobre os princípios e as capacidades de um Cidadão da Pátria da Língua Portuguesa.
E de que princípios estamos a falar?
Do rigor matemático, da capacidade única de surpreender com as ideias e as soluções imprevistas, a cordialidade com que nos relacionamos com os outros, sejam ou não adversários. Características que encontramos em Eusébio, e a que é importante acrescentar a luta pela Liberdade, como nos mostra o exemplo da resistente Alda Espírito Santo.
Ser cidadão da Pátria da Língua Portuguesa é ter memória, memória que atravessa todo o percurso do Ballet Stagium que já dançou a violência do Holocausto e a luta dos mineiros do Chile e o garimpo de ouro em Serra Pelada na Floresta Amazônica.
A resistência dos índios brasileiros em Kuarup e a ruptura artística e nacionalista dos modernistas de 1922, o futebol, a América Latina, Coisas do Brasil e Dona Maria 1ª, a Rainha Louca, e a resistência dos escravos nos Quilombos, a música brasileira popular de Chico Buarque a Elis Regina, de Dorival Caymi a Carmen Miranda, de Adoniran Barbosa e Quinteto Violado a Ary Barroso, de Milton Nascimento a Egberto Gismonti e Geraldo Vandré e a erudita contemporânea de Villa-Lobos, Cláudio Santoro, Almeida Prado e Ayrton Escobar, a literatura em “A Infanticida Marie Farrar” de Bertolt Brecht, em “Diadorim” de Guimarães Rosa, em “Os Estatutos do Homem” do poeta Thiago de Mello, e o teatro em “Navalha na Carne” de Plínio Marcos.
Neste mundo múltiplo e complexo o cidadão da Pátria da Língua Portuguesa tem também que ser capaz de viver entre mundos e de potenciar a riqueza dessas realidades muitas vezes contraditórias, tem de ir ter, conversar e dar-se com o outro e os outros, de se integrar em ambientes diferentes e de preservar, no fundo de si, o calor único que esta língua transporta, como muito bem nos mostra a Sylvie de Morais.
Com a consciência que precisamos de pelo menos duas línguas, uma de ancoragem psicológica, outra nacional e de ensino, quando as duas não coincidirem, para dar sentido e enriquecer a diversidade desta língua com tantas culturas e olhares, como nos explica o Corsino Tolentino
E, finalmente, deixar que as nossas maiores referências, sejam a de Camões ou Pessoa, entrem primeiro que tudo pelos ouvidos, pois, como muito bem nos diz o António Fonseca, a porta de entrada da paixão pelas histórias, pela poesia, pelo artifício da linguagem deve ser a oralidade.
Boas leituras.
Carlos Fragateiro, Editor do Cadernos Cultura e do Conhecimento