Vazante, de Daniela Thomas e Pendular de Júlia Murat, são dois filmes presentes na Mostra Panorama do próximo Festival de Berlim, a 67ª edição que decorre entre os dias 9 e 19 de Fevereiro de 2017.
O director de som português, Vasco Pimentel, deu ontem conta dessa selecção na sua página de Facebook:
“O ‘Vazante’ da Daniela Thomas é o meu primeiro filme no Brasil. Foi hoje selecionado para o Festival de Berlim. Muito possivelmente, este filme contém o melhor do meu trabalho. Nunca me tinha saído um filme assim, um filme cenográfico em que a cenografia são os sons que encerram as pessoas numa fazenda de Minas Gerais no princípio do século XIX.
A fazenda é um mundo imenso (ouve-se que é imenso), mas da fazenda não se pode fugir sem voltar à fazenda. No seu magnífico Vazante, a Dani e uma equipa inacreditável puseram-nos, a nós que vemos e ouvimos o filme, a viver naquele mundo longe do mundo, um mundo com regras próprias. O filme é o exacto momento em que se quebra uma regra. O mundo desaba, o Brasil começa. Só neste filme é que eu percebi porque é que o Brasil é assim..”
Vazante é o primeiro filme a solo de Daniela Thomas. O ambiente é o Brasil de 1821, em Minais Gerais, nas vésperas da declaração da independência, Vazante apresenta um retrato das raízes do racismo no país. O filme explora as relações de raça e de género no Brasil Colonial. O actor português Adriano Carvalho vive António, um patriarca do século XIX, que, ao voltar de uma longa viagem conduzindo uma tropa de escravos, descobre que a sua mulher morreu em trabalho de parto. O comunicado oficial do festival de Berlim destaca o peso histórico e social da produção e fala sobre “eventos monstruosos” abordados.
Já Pendular, de Julia Murat, mistura cinema, dança e escultura para narrar a trajectória de um casal de artistas contemporâneos, analisando a forma como os limites, contradições e obsessões do relacionamento se reflectem no trabalho de cada um deles. Na selecção do evento, o filme foi descrito como “um tratamento original e filosófico sobre os géneros no caso de jovens boémios aproximando-se da meia-idade”.
Além dos dois brasileiros, outros nove longas-metragens, de diversos países, foram selecionados. Segundo a organização, todos estão divididos em dois temas: “uma nova abordagem da história dos negros na América do Norte, América do Sul e África” e “Europa Europa”, com produções que apontam caminhos que as forças progressistas possam utilizar para fugir da tendência europeia de retorno ao passado.
Colo, de Teresa Villaverde é, até ao momento, o filme português seleccionado para competir pelo Urso de Ouro.