Hindu é um som divino, que antecede o próprio início de toda a criação, o som da tríade simbólica: Brhama, Vishnu e Shiva, isto é, o Princípio da Criação, o Princípio da Conservação e o Princípio da Renovação, respetivamente. Não deixa de ser, metaforicamente, o que “lemos” e entendemos no solstício de inverno, no que nele se tornou Natal, e, ainda mais expressivamente, na Natureza: criação, conservação e renovação.
Por outro lado, para um judeu, que tolera amistosamente quem celebra o Natal, procurando não lhe dar grande relevo, a época não tem a ver com o nascimento de Cristo (figura que o judaísmo não consagra). Aliás, o judeu vive na expectativa da vinda do Messias de Deus que libertará e governará o Povo Eleito entre as nações do mundo. Uma história autónoma, portanto e com outro enraizamento. O judaísmo tem, no entanto, a sua festa de Dezembro. Chama-se Chanucá ou Hanucá, ainda com a grafia Hannukka (חנכה ḥănukkāh ou חנוכה ḥănūkkāh) – que é também conhecido como o Festival das Luzes.
“Chanucá” é uma palavra hebraica que significa “dedicação” ou “inauguração”.
A primeira noite de Chanucá começa após o pôr-do-sol do 24º dia do mês judaico de Kislev e a festa é comemorada durante oito dias. Uma vez que na tradição judaica o dia do calendário começa no pôr-do-sol, o Chanucá começa no 25º dia. O festival de Chanucá foi instituído por Judas Macabeu e pelos seus irmãos para celebrar esse evento. Após terem recuperado Jerusalém e o Templo, Judá ordenou que o mesmo, o Templo, fosse limpo, que um novo altar fosse construído no lugar daquele que havia sido profanado e que novos objetos sagrados fossem feitos para repor os que tinham desaparecido.
Quando o fogo sagrado foi devidamente renovado sobre o altar e as lâmpadas dos candelabros foram acesas, a dedicação do altar foi celebrada durante oito dias entre sacrifícios e músicas. O azeito durou oito dias exatos a arder, o que ganhou grande significado.
Os festivais judaicos, recordo, estavam ligados à colheita das sete frutas bíblicas (colheita na qual Israel ficou famoso). Pessach é a comemoração da colheita da cevada, Shavuot do trigo, Sucot dos figos, tamareiras, romãs e uvas, e Chanucá das azeitonas. A colheita das azeitonas é tradicionalmente em Novembro e o óleo de oliveira, o azeite extraído da azeitona, ficaria pronto para o Chanucá em Dezembro.
Para as comunidades chinesas, entretanto, o Natal é sobretudo uma curiosidade. A grande festa tradicional chinesa é a de 14 de Fevereiro – pois assinala o início do Novo Ano Chinês. Na Comunidade Chinesa em Portugal, que em números oficiais ronda as 20 mil pessoas, há seguidores do Cristianismo, do Budismo, do Islamismo e sobretudo das tradições ancestrais, Confucionismo e Taoismo.
Curiosamente, 25 de Dezembro para os Budistas é considerado um dia de mau presságio.
O Budismo não é, no sentido estrito, uma religião, mas uma filosofia de vida, baseada nos ensinamentos recolhidos e organizados nas colectâneas dos Sutta/Sutra e Tantra. Dos principais textos doutrinários destacam-se Os Três Cestos (Tipikata), Sutra de Lótus (correntes oriundas do Extremo Oriente) e o Sermão de Benares, no qual Buda, depois da Iluminação, identificou o Sofrimento como o grande mal do mundo.
A Fé Bahá’í é a mais jovem religião independente mundial. A sua mensagem proclama ser necessária a unificação da humanidade, com base em valores éticos e espirituais, como forma de responder aos problemas atuais. Os bahá’ís defendem princípios como a Unidade na Diversidade, a Igualdade de Direitos e Oportunidades entre Homem e Mulher, a Unidade de Deus e da Religião, a Revelação Progressiva, a Educação Universal, a abolição de extremos de Pobreza e Riqueza, a necessidade de um Idioma Auxiliar Universal ou a Busca Independente da Verdade. Não comemoram o Natal de um modo particular, mas normalmente, reúnem-se em família.
Para o islão, religião assente nos Cinco Pilares, esta é uma época de respeito – Jesus, o profeta, tem presença muito importante no Alcorão, aliás como Maria, sua mãe.
Para quem não conhece os Cinco Pilares: 1-Não há Deus a não ser Deus e Muhammad é o seu profeta; 2-Orar cinco vezes por dia; 3-Dar esmola;4-Cumprir o Jejum prescrito, especialmente o mês do Ramadan;5-Fazer a peregrinação a Meca.
A título privado digo-vos que estive, neste final do ano de 2016, como o já havia feito em anos anteriores, em festas (de Natal?), dos Bahá´is, da Comunidade Islâmica e da Comunidade Hindu e também de comunidades cristãs.
O centro em todas elas foi o Homem, a proximidade nas suas diferenças, a paz e a concórdia para um entendimento intercultural. O apoio, a solidariedade e a preocupação com o próximo, executados de forma anónima, efetiva e eficaz.
Parece isto, à primeira vista, uma contradição profunda, ao olharmos para o estado do mundo e do que nele se faz evocando, impunemente, as religiões e agindo sob bandeiras de causas criminosas com a camuflagem do religioso. Nada mais errado. A esmagadora maioria das pessoas, independentemente das suas convicções religiosas, quer a paz e a boa vizinhança.
Aliás, a história do mundo é assente em erros e aproveitamentos – que conferem poder aos poderosos e uma aceitação surpreendente por parte dos mais ingénuos.
Tomemos um exemplo festivo: o Pai Natal, que é aliás uma invenção recente, devia vestir de verde, o que aconteceu até ao século XX – assim como só há noivas vestidas de branco desde a época da Rainha Vitória (Rainha inglesa nascida em Londres, a 24 de Maio de 1819 , morreu em East Cowes,a 22 de Janeiro de 1901).
Mas o pai Natal tem uma força de imaginário que a rainha inglesa nunca terá.
Se São Nicolau, o inspirador do pai Natal, foi um homem do século IV (morreu em 343 de acordo com a tradição), foi reabilitado em 1087, quando as suas relíquias saíram de Myre – a sua cidade de nascimento terá sido Patara, na Ásia Menor, Turquia de hoje – e foram transportadas para Itália, produzindo um culto que dura até hoje.
São Nicolau de Mira, dito Taumaturgo (que é a capacidade de um santo ou paranormal de realizar milagres), também conhecido como São Nicolau de Bari, é o santo padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega. Com ele, generoso e gentil, veio o seu oposto, o bicho-papão (o alsaciano Hans Trapp, o Pai Pouque, na Normandia, o Rubelz alemão, o Lorraine, na área Hanscrouf de língua alemã da Bélgica, ou, no Luxemburgo o Houseker, e na França o Foeuttard). Personagem do folclore ligado à imagem de Saint-Nicolas, era o agente da moral popular, um justiceiro, junto dos mais novos. Sinistro, acompanha sempre St. Nicholas que distribuirá presentes às crianças boas ou bem comportadas, enquanto, como bicho-papão, desfere golpes de martinet (um chicote curto, com várias fitas, parecido ao que era usado pelos faraós egípcios) a todos os que considera mal comportados.
Parece que nas regiões da França e da Bélgica, o homem do saco era bem real; simplesmente, o responsável pela entrega de carvão ou de beterraba, mas que amedrontava as crianças – era um estranho que aparecia de repente na terra – e que as mães aproveitavam para usar como ameaça: “ou te portas bem ou ele mete-te no saco”. A ameaça para a criança que se porta mal!
Há historiadores que defendem que os mesmos personagens davam presentes às crianças uma vez por ano, procurando recompensar os que tinham escapado à sua ameaça. O pai Natal que traz presentes, num saco, bondoso e generoso, uma vez por ano.
O bicho-papão é quase sempre retratada como um personagem repulsivo, coberto com peles de animais, com uma longa barba, o rosto escuro e cabelos desgrenhados. Muitas vezes, é retratado com um chicote, de ramos finos e quase sempre uma ameaça para as crianças desobedientes (ou relutantes em dizer as suas orações. São Nicolau, a quem ao longo dos séculos foram atribuídos milagres, quase sempre relacionados com crianças, é o seu alter-ego bondoso. Um bicho-não-papão, sorridente e afável.
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