“O programa de governo que hoje despedimos com justa causa não resolve estes problemas”
Mário Centeno, o provável ministro das finanças do governo PS, despediu “com justa causa” o governo da coligação PSD/CDS. O homem que elaborou o programa financeiro e económico do PS acusou Passos Coelho de apresentar um programa governamental de “cinismo em forma do vazio” e de ter deixado o país “mais pobre” por ter escolhido o caminho da austeridade.
“Portugal regrediu dos indicadores de pobreza, de exclusão social, de precariedade, de emprego mal remunerado, de educação” afirmou Mário Centeno. “O programa de governo que hoje despedimos com justa causa não resolve estes problemas”, sentenciou.
Centeno discursou pela primeira vez no parlamento, logo a seguir a Maria Luís Albuquerque para explicar como vê o programa do governo que cai hoje: “é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Não há compromissos sobre o salário mínimo, é vago sobre a Europa, tem poucos números e os poucos que tem não estão certos”. Mário Centeno atacou o governo anterior sobre a dívida pública, que afirma ser, em finais de 2015, 125% do PIB. E perguntou directamente à ainda ministra das finanças do PSD: “Já vendeu o Novo Banco? Terá o doutor Sérgio Monteiro, com a sua remuneração milionária, vendido o banco na semana passada sem que nos tenhamos dado conta?”
Mário Centeno resumiu assim o Portugal de 2015: “hoje temos um país mais pobre. Quase um milhão de portugueses recebe salário mínimo degradado”. E acusou o governo de ter escondido os números para justificar os cortes salariais. “Num ato de propaganda vendeu ao FMI um gráfico de onde eliminava os portugueses onde o salário tinha sido cortado cerca de 5%. Mais de 25% dos portugueses foram eliminados”, afirmou.
Passos evita ouvir críticas de Centeno
Enquanto Mário Centeno falava, o primeiro-ministro Passos Coelho saiu da sala e não ouviu em tempo real as criticas que o deputado do PS lhe dirigiu. “Falta-lhe a troika ao seu governo”. Durante quatro anos viveu com a desculpa da troika, viveram da ditadura do ‘não há alternativa’. E atribuiu ao governo de Passo, a prática do pensamento do escritor Mia Couto, que citou: “na recessão os pobres são os primeiros a perder. Na expansão os pobres são os primeiros a não ganhar”. Mário Centeno fez o diagnóstico de quatro anos da austeridade de Passos Coelho. “Deixaram o sistema financeiro inoperante, os bancos descapitalizados e incapazes de apoiar o investimento, o incumprimento bancário das empresas e das famílias nos níveis mais altos da história e da democracia”.
“Na sintética e clara intervenção parlamentar, Centeno atacou também a coligação PSD/CDS com a problemática da emigração para desmentir os números do governo. “Somos hoje um país mais pequeno, somos menos porque desde 2011 emigraram 350 mil portugueses e no terceiro trimestre de 2015 perdemos mais 55 mil trabalhadores”. Nesta matéria a veia literária de Centeno recordou e citou a balada na voz de Adriano Correia de Oliveira: “este parte, aquele parte e todos, todos se vão”.
Mário Centeno acusou Passos Coelho de ter escolhido a austeridade; é uma escolha e ter uma “vontade destruidora de milhares de pequenas empresas que fecharam e que para quem o liberalismo resultou em aumento de impostos”. Acusou Passo Coelho de ter “tiques de autoritarismo que perdeu em 4 de Outubro”.
Acusou ainda Passos Coelho de após as eleições encenar “uma farsa a que gosta de chamar negociação”, negando a falta de vontade política em negociar com a coligação. “É falso que o PS não se tenha disposto a saber mais à cerca das vossas intenções programáticas. Confrontados com 58 perguntas não responderam a nenhuma e continuamos sem encontrar essas respostas no documento a que chamam programa de governo”, disse Mário Centeno, que foi aplaudido de pé pelos deputados da bancada socialista.