O Governo liderado por Passos Coelho caiu no Parlamento, após a votação da moção de rejeição apresentada pelo PS, que teve o apoio de 123 deputados (PS, BE, PCP, Verdes e PAN) e o voto contra de apenas 107 (PSD e CDS).
Ao longo de dois dias de votação sucederam-se as leituras desencontradas dos resultados eleitorais. Do lado dos partidos de esquerda, a ideia é que houve uma clara rejeição, por parte do eleitorado, do programa eleitoral apresentado pela coligação e da política seguida ao longo dos últimos quatro anos. Por várias vezes se ouviu o argumento que os dois partidos de direita perderam 700 mil votos e 25 deputados. Também foi repetido o argumento de que o que os eleitores elegeram foi deputados, pelo que é no Parlamento e no quadro da relação de forças existente que tem de se encontrar a solução de Governo, sendo a do PS, apoiada pelos restantes partidos de esquerda, perfeitamente legítima.
Argumentos contrários foram atirados do outro lado da barricada. Membros do Governo e deputados do PSD e CDS não se cansaram de lembrar que a coligação Portugal à Frente é que ganhou as eleições e, por isso mesmo, deve ser ela a governar.
A solução agora encontrada pelos partidos de esquerda não é mais do que uma consequência do “apetite pelo poder” que o PS tem, acusou Passos Coelho na sua intervenção final. Ainda por cima, trata-se de uma solução pouco credível, à qual falta “coesão e identidade”. O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, foi mais longe e acusou os partidos de esquerda de estarem a fazer uma “adulteração dos resultados eleitorais”, ao deitarem abaixo “o governo que o povo escolheu”.
O seu alvo principal foi António Costa, de quem citou uma série de afirmações antigas que, na sua opinião, mostram a incoerência da atitude que agora está a ter. Deu especial relevo àquela em que o agora líder socialista dizia que “quem ganha por poucochinho só pode fazer poucochinho”. Nesse caso, perguntou, “quem perde por muito, o que pode fazer?”
Igual mote foi seguido por Passos Coelho, que interpreta o acordo da esquerda como o de uma “maioria negativa que se propõe derrubar governo” mas que nunca vai conseguir formar uma “maioria positiva”. Mas já que escolheu esse caminho, avisou, o PS não pode, a partir de agora, esperar apoio da parte de PSD e CDS, mesmo nas matérias que mais o dividem do PCP e do Bloco, como as questões europeias.
Da sua parte, voltou a reafirmar que “não abandono o meu país e lutarei no Parlamento”. Despediu-se dizendo que “não é todos os dias que se sai do poder com o voto do eleitorado” e recebeu uma ovação de pé, durante cerca de cinco minutos da parte dos deputados do seu partido e do CDS.