Sonhava acordada com obscenidades e a seguir orava… mastigando suavemente uma penitência imposta por si. Os excessos imaginários cometidos por ela violavam repetidas vezes a doutrina que adubou a sua maturidade.
Cresceu num convento como afilhada das madres, cercada de regras e proibições, nunca nada lhe faltou, mas queria de tudo um pouco mais para além da cerca.
Estava preparada para a vida? Pensava no porquê…
Porque é que o outro lado da cerca era tão excitantemente proibido? Porquê negar o chamado da natureza? E aqueles seres diferentes que trajavam batinas longas… e o que escondiam debaixo de tão longas vestimentas?
E voltava a orar intensamente determinando perdão pelas vezes que sua mente transgredia as leis atravessando a fronteira ilicitamente. E depois pensava nos mandamentos… queria saber o porquê das doutrinas… nunca perguntava, sob pena de lhe serem impostas mais penitências.
Uma vez em um táxi, ouviu uma música que falava de amor, entrega e tesão… será que existe amor sem ser o de Cristo??? E entrega… minha alma pertence a Deus! E o corpo? Mas é tesão ou tensão?
No silêncio, cantava aquela canção que despertou os seus anseios.
Deixa-me tocar teu corpo
Beijar a tua emoção até te deixar louca de tesão
Dá-me o teu coração que para sempre serei tua razão
Vem que te levarei a conhecer o lado bom, bom, bom, bom… o lado bom da vida…
Queria experimentar cada verso que ouvira mas precisava entendê-la… e como entender sem perguntar àquele homem que a cantava sorrindo como se fora ele o autor… e este não usava batina e suas formas corporais causavam-lhe ainda mais interrogações… trocaram olhares, a seguir sorrisos e depois um toque suave na palma da mão… e alguém gritou lá de trás com voz angelical: – ficamos aqui…
Daí em diante ele passou a morar nas suas intenções e da janela gradeada procurava aquele rosto familiar em cada azul e branco que passava por aquele lugar distante empoeirando a sua saudade.
Um dia acordou renegando todos os sonhos, decidiu começar a viver cada um deles… sim cada interrogação que a torturava, tinha de ver para crer… instintivamente pegou em sua cruz e foi sacrificar-se pelo mundo a fora.
A autora escreve em PT Angola