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João de Sousa

Domingo, Dezembro 22, 2024

A meta

“A Vida e a Morte”, por Gustav Klimt

Reflicto no momento em que tive de responder ao meu filho quando perguntava se Deus viria em nossa busca… eu disse que sim! E depois a questão: para quê?

Penso na morte como uma transição. Dói menos saber que se luta tanto por nada; partimos de mãos vazias e corpos nus, mas há ainda os que vivem como se a morte não existisse, amealham falsos legados, marcados de ambição e falta de humanismo.

Penso no pecado como um consolo para quem quer justificar a sua existência, são sete os capitais que podem tornar-se em virtudes, se com algum esforço menos egocêntrico aceitarmos dividir a gula com alguém verdadeiramente esfomeado, a avareza com alguém que nada tem mas agradece todos os dias pelo dom da vida. Se repartirmos teremos menos para ostentar e há por aí muitas pessoas que já não acreditam no amanhã. A essas, algumas gramas de ambição.

E os crimes? Serão tão graves os passionais? Justificam-se?

Os fora de lei, esses sempre existiram. Para mim, o Ser Humano é o ser mais agressivo e irracional da natureza e elas, as leis, foram inventadas para lhe regular esse lado cruel; imagine se não existissem leis, nem penas, nem doutrinas.

A luta pela sobrevivência marca-nos de tal maneira, que cada dia acordamos mais fortes, quanto mais feridas, mais cicatrizes e mais foco na meta, e ninguém pensa na meta final. A morte.

Todo mundo fala da empatia, caridade, solidariedade e outros sentimentos maiores; enchem os pulmões de ar e numa baforada libertadora voltam a pensar só em si. A cada dia inventam e descobrem-se milhares de engenhocas complicadas, fórmulas complexas são misturadas pelo alquimista para fabricar mais ouro, a terra é perfurada até ao manto para descobrir minerais e segredos nunca antes desvendados.

Mas a verdadeira mina está dentro de nós; fugimos dela. A ponto de traficarmos órgãos e vendermos as nossa almas.

Organizam-se doações onde cada um dá o que lhe sobra, e quase nunca reparte o que tem… vende-se esperança em forma de fé, escravizando mentes e saqueando a verdade… valores perdidos e vícios resgatados. Compramos bênçãos e nos esquecemos de sermos humanos.

E depois?

Depois tudo acaba e nos é reservado um palmo e meio de terra, e por cima milhares de hectares riem-se de nós pois ainda não aprendemos que tudo na vida é para usar e deixar. Deixamos a conclusão do que será escrito na nossa lápide e nem uma vírgula nos torna superiores ao vizinho ao lado.

A autora escreve em PT Angola

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