Para enfrentar este dilema, é preciso perder tempo e ir às fontes autênticas de informação, submersas na enxurrada estonteante de materiais quotidianos.
Esse é o papel dos analistas, cientistas e filósofos políticos que, de tempos a tempos, renovam e fornecem grelhas de interpretação sobre o que se passa no mundo.
É este o caso de “A Desordem Mundial”, 2016, o mais recente livro do brasileiro e grande lusófilo Moniz Bandeira, um cientista político que combateu a ditadura militar na sua pátria – tendo sido preso na Ilha das Cobras nos anos 60 e depois deportado para a Argentina e Uruguai – e agora a viver na Alemanha.
A desordem mundial, ampla e rigorosamente descrita por Moniz Bandeira, é a que resulta da intensa luta de poder em Washington desde que o consenso neoliberal dos anos 90 liquidou a autocontenção americana que servia de freio à contenção dos adversários externos até 1989.
A desordem veio transtornar todo o leste da Europa, em particular e Ucrânia e a franja islâmica do Norte de África e Médio Oriente, com guerras por procuração, terror, caos e catástrofes humanitárias.
O que recomenda o livro de Moniz são as correlações que evidencia. Há ondas de refugiados a morrer no Mediterrâneo e a bater às portas da Europa, e escravos africanos do ISIS na Líbia, porque Kadaffi foi abatido mas não substituído.
Há neonazis na Ucrânia porque a evolução democrática nesse país foi forçada pelos falcões como a sr.ª Nutland. Há Daesh à solta na Síria porque os EUA não se contiveram após a vitória no Iraque. E houve a guerra do Iraque porque… etc.
Ainda mais grave do que esta exportação do caos através da guerra e das mudanças violentas de regime, é que este fim da autocontenção americana chegou a Washington e está a degradar a grande democracia.
Para Moniz Bandeira, o destino próximo do mundo está dependente da intensa luta de poder em Washington. À medida que a superpotência experimenta uma mutação interna do seu regime cada vez mais pressionado pela oligarquia interna, os riscos aumentam.
Com um impressionante tecido de documentos e entrevistas, Moniz Bandeira mostra como as desigualdades internas dos EUA foram causadas pela ditadura do capital financeiro que beneficia apenas 1% da população, americana e do mundo.
Dos 8 trilionários que possuem tanta riqueza quanto as 3,6 mil milhões de pessoas mais pobres do mundo, seis são empresários americanos, um galego e outro mexicano.
Esta narrativa vai atingir o seu clímax com a tomada de posse do bilionário Donald Trump, a desordem mundial exportada pelos EUA regressou a casa. Tudo indica que vai correr mal!
Este artigo respeita o AO90