Mário Centeno, o homem que deverá ser ministro das Finanças se Cavaco Silva aceitar António Costa como primeiro-ministro, foi à RTP 3, esta Quarta-feira, jogar, ao mesmo tempo, à defesa e ao ataque. Jogou à defesa nas questões relacionadas com a possibilidade de reversão da concessão dos transportes de Lisboa e Porto e na privatização da TAP. Em ambos os casos, a sua ideia é fazer abortar os negócios, mas não garante que isso venha mesmo a acontecer.
É que, e aqui parte para o ataque ao Governo de Passos Coelho, houve “falta de transparência” nestes processos e, por isso, tem de analisá-los a fundo, de forma a verificar se é possível reverter essas situações sem que daí revertam danos graves para o Estado.
Também ao ataque esteve na questão do Novo Banco. Mário Centeno diz não compreender como é que o primeiro-ministro e a ministra das Finanças podiam dizer que não haverá prejuízo para os portugueses neste processo.
O programa de Governo negociado com Bloco, PCP e Verdes tem como objectivo “virar a página da austeridade, de forma controlada e com responsabilidade financeira”.
Enquanto o anterior Governo apostou essencialmente nas exportações, o do PS dará especial atenção ao mercado interno. É que a estratégia seguida, na sua opinião, teve consequências devastadoras. Por um lado, levou um número muito considerável de empresas à falência, ou muito perto disso, com graves consequências para o desemprego.
Mas não só. Teve reflexos igualmente negativos na produção nacional. Isso fez com que tenha bastado que, a partir de 2013, a economia portuguesa estabilizasse para que as “importações de bens de consumo crescessem 30%”, por termos ficado com escassa produção interna.
Para conseguir esse objectivo conta com um conjunto de medidas que passam, em boa medida, pela reposição de rendimentos das famílias portuguesas – o que espera tenha um efeito benéfico na economia nacional – e por uma política de fiscalidade, especialmente direccionada para as pequenas e médias empresas e com o foco principal na criação de emprego, que é “a grande prioridade”.
Admite que o ritmo de redução do défice vai ser um pouco mais lento do que o previsto, mas isso “não põe em causa a participação de Portugal no seio da União Europeia, antes pelo contrário”, uma vez que a nossa economia vai ficar mais robusta e dar maiores garantias aos parceiros europeus.
Também não espera uma reacção negativa dos nossos credores, uma vez que o que eles querem é que o país encontre formas de crescimento que lhe permita cumprir as suas obrigações, a este nível, e a sua estratégia garantirá isso. Mas tudo tem de ser feito de forma sustentável e é exactamente para avaliar se a dívida portuguesa é sustentável que vai ser criado um grupo de trabalho. Vão ser avaliados os valores, mas também todos os outros elementos relacionados com a dívida, tal como prazos e juros, de forma a “criar condições para que a dívida seja paga”.