Nova forma de governar: assinar decretos, chamar a comunicação social (não toda mas apenas a que foi “escolhida”) e mostrar ao mundo uma assinatura como símbolo de poder, de força, de ameaça. Estamos perante um novo método que subverte todas as regras da democracia liberal, que associa autoritarismo a disseminação do terror.
E, se o procedimento subverte o que ao longo de décadas foi construído e que, apesar das suas imperfeições, é a forma mais razoável de nos organizarmos em sociedade, o conteúdo está ao nível da pré-história. Põe em causa direitos fundamentais, é contra tudo o que as sociedades consensualizaram como essencial para a vida humana: a saúde, a igualdade e a não discriminação, seja com base em que motivo for (cor da pele, género, orientação sexual, proveniência geográfica, etc), a paz, a segurança, a diplomacia. Só uma mente troglodita pode defender a tortura como método de obter informações e pensar que a construção de muros resolve seja que problema for!
(Por que será que tenho a sensação de que tudo o que digo não tem a força suficiente para dar conta do horror a que estamos a assistir e dos perigos para o futuro da humanidade que ele envolve?)
Este pesadelo é tão forte que quase nos paralisa, é como uma catástrofe que quase nos deixa impotentes. Nunca pensámos que seria possível regredir tanto. Nunca concebemos que alguém, assim, pudesse ser eleito e fosse Presidente de um dos países mais influentes do mundo, do país cujas despesas militares são superiores às despesas conjuntas dos oito países seguintes.
Penso que só temos uma saída – RESISTIR. Esta envolve dois caminhos. Primeiro, é preciso reflectir aprofundadamente sobre as causas, o que tornou isto possível, para além das particularidades do sistema eleitoral americano. Isto torna-se ainda mais importante se relacionarmos (coisa que não podemos deixar de fazer) com a ascensão da extrema -direita na Europa.
Em segundo lugar, exercitar a desobediência civil. A “marcha das mulheres”, realizada em várias cidades dos Estados Unidos e de muitos outros países foi um excelente exemplo do caminho a seguir. Para além de outras manifestações que entretanto se realizaram está agendada para Washington (neste momento ainda sem data) uma grande marcha da ciência. Segundo os organizadores “um governo que põe em causa a ciência para implementar programas ideológicos, põe em perigo o mundo”. Os cientistas tentam igualmente preservar a segurança dos dados e da informação resultante das investigações sobre alterações climáticas. Também o trabalho de anos nesta área está em risco: Trump quer controlar os dados sobre esta matéria, nomeadamente os estudos da Agência de Proteção Ambiental, antes de serem tornados públicos! Trata-se de algo abominável: restringir os cientistas de tornarem públicos os seus estudos e investigações!
Na verdade, tudo o que tem a marca de alguma evolução ou progresso civilizacional está em risco! Assim, mesmo um pouco atordoados por tantas trevas, não temos outra possibilidade: RESISTIR, com todas as formas e meios que já existam ou com novos que saibamos inventar.