Em 2005, quando faleceu Miguel Arraes, publiquei no La Insignia, na Espanha:
“Os obituários que sempre esvoaçam e rondam a agonia dos grandes homens desta vez falharam no alcance e na sua mira. Urubus, de boa visão e argúcia, desta vez os obituários erraram o cadáver do brasileiro que se vai. E não exatamente por falta de tempo e de informações.”
O que publiquei antes, também se aplica agora, de modo mais cruel em relação a Dona Marisa, a companheira da vida de Lula. Primeiro, porque a mataram de forma lenta e perversa, indigna, quando a envolveram em crimes de corrupção – quem? Sérgio Moro e bando – em compra de apartamento que jamais possuiu. E mais pedalinhos para os netos!
Ainda nessa primeira morte a mataram quando viu caluniarem, para a humilhação, Lula Amado do Brasil. Dessa primeira morte é inescapável a culpa da grande pequena mídia, que acusa primeiro e apura depois, que publica maldosas hipóteses como fatos consumados, na base do “se não furtou, alguém furtou para ele”.
E mais a perseguição nos processos da Lava Jato, onde o criminoso Lula é visto como o chefe secreto da corrupção de todos os tempos no Brasil. Dessa sua primeira morte, mídia, Moro e demais assemelhados têm uma inescapável culpa. Que enviem condolências e sinais de respeito apenas mostram que a hipocrisia respeita a virtude na aparência.
Depois, mataram Dona Marisa de modo mais rápido, quando a tiveram à mercê de cuidados na maca, no hospital Sírio. E aqui, os médicos que desonram o Brasil, que retiram o nosso povo do convívio civilizado, tiveram o seu grande final. A queda mais baixa, que os nivela a seus irmãos nazistas e dos tempos da ditadura brasileira.
Começaram pela canalhice de divulgar imagens da tomografia de Dona Marisa. Digamos assim, foi até uma canalhice menor, à altura dos seus braços que esvoaçam corpos indefesos como asas de urubu. Nessa divulgação e chacota, faltaram, perdoem a impropriedade da expressão, ao Juramento de Hipócrates:
“Prometo que aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém…
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto”.
Mas como aconselhava a ironia de Machado de Assis, “suje-se gordo”. Ou suje-se grande, doutor. Então veio o que ultrapassou o Juramento que nunca levaram a sério: o neurocirurgião Richam Faissal Ellakkis comentou com a galera do seu bando: “Esses fdp vão embolizar ainda por cima. Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela”.
O doutor Richam Faissal El Hossain Ellakkis – esse é o nome inteiro do delinquente – não falou sem conhecimento do mal que poderia fazer ou que fez. Ele é especialista em NEUROCIRURGIA VASCULAR E BASE DE CRÂNIO, portanto, falou com absoluta propriedade do crime que gostaria de cometer ou cometeu.
Ele passou do Juramento de Hipócrates. Prometeu a execução de um assassinato com ares de escárnio, deboche contra mais que a mulher de Lula Amado do Brasil: falou que mataria uma pessoa necessitada de socorro médico. E não lhe faltam antecedentes criminais. Em 2015 foi condenado em sentença judicial, como se vê em rápida pesquisa:
“ACIDENTE DE TRÂNSITO- DJALMA ALEIXO DE LUNA E OUTRO X RICHAM FAISSAL EL HOSSAIN ELLAKKIS. Tópico Final R. Sentença de Fls.73/74: “ ANTE O EXPOSTO, julgo PROCEDENTE o pedido formulado nesta ação para o fim de condenar RICHAM FAISSAL EL HOSSAIN ELLAKKIS a pagar a DJALMA ALEIXO DE LUNA a quantia de R$ 939,56 (novecentos e trinta e nove reais e cinquenta e seis centavos), atualizada pela correção monetária, de acordo com os índices da Tabela Prática do Tribunal de Justiça de São Paulo, e acrescida de juros de mora de 1% ao mês, ambos contados a partir do evento danoso (11/08/2015) , em conformidade com as Súmulas 433 e 544 do Superior Tribunal de Justiça, declarando extinto o processo, nos termos do art.4877, I, do Código de Processo Civil”.
Aí está o começo do perfil do grande doutor Richam Faissal, que apenas sujou-se gordo, de modo mais aberto, no crime contra Dona Marisa, que estava à sua mercê no hospital.
No artigo para o La Insignia em 2005, eu terminava com esta citação de um discurso de Miguel Arraes:
“Como homem público, tenho que esperar tudo, sem queixa, porque é minha obrigação ir pra cadeia, se é pra manter a minha posição de defesa do povo e não capitular diante dele. É minha obrigação ir pro exílio, se não posso ficar na minha terra. É minha obrigação manter a posição, manter firmemente a posição que pode mudar o nosso país e melhorar as condições de Pernambuco.”
O que poderá dizer Dona Marisa, nesta hora em que se vai na sua última morte? – Punam-se de modo exemplar os criminosos deste Brasil.
O autor escreve em português do Brasil