Os banqueiros não parecem estar preocupados com a possibilidade de António Costa ser o próximo líder de um governo do PS, apoiado pelo Bloco de Esquerda, pelo PCP e pelos Verdes. Pelo contrário, as declarações proferidas pelos responsáveis dos maiores bancos a operar em Portugal, ouvidos esta manhã por Cavaco Silva, podem até ser lidas como dando um apoio tácito a essa possibilidade.
Uma atitude que pode ser espelhada pela frase: “confio no Dr. António Costa e no Partido Socialista”, proferida por Fernando Ulrich, do BPI.
Menos directo foi o presidente do Santander Totta, mas as cautelosas palavras que proferiu podem igualmente ser interpretadas como indo ao encontro ao discurso de António Costa. Vieira Monteiro manifestou a ideia de que é fundamental baixar a taxa de desemprego e obter maiores níveis de “justiça social”. Frisou, igualmente, que o próximo executivo deve ser “forte e estável”, o que, em linguagem de banqueiro, parece querer significar que não apoia a possibilidade de Cavaco Silva optar por um governo de iniciativa presidencial, o qual, pelo menos no Parlamento, teria pouca força e fracas probabilidades de aprovar o seu programa e o orçamento.
E um orçamento aprovado o mais rapidamente possível é um elemento fundamental para dar confiança aos mercados, acrescentou Nuno Amado, do BCP.
Obviamente que, para todos estes banqueiros, é imprescindível que o próximo governo assuma como bandeira essencial que o país vai “continuar a cumprir os seus compromissos internacionais””, defendeu Stock da Cunha, do Novo Banco, uma ideia realçada por todos os seus colegas.
Inquirido pelos jornalistas, Stock da Cunha procurou desvalorizar as notícias e afirmações menos optimistas relativamente ao banco que dirige, o qual “continua o seu processo de recuperação e tem uma situação de liquidez perfeitamente confortável”.
A ‘batata quente’ do Novo Banco
Mas a verdade é que o Novo Banco ameaça ser a principal dor de cabeça dos próximos governantes, no que diz respeito ao sistema financeiro. Um teste de esforço feito recentemente revelou que, no cenário mais desfavorável, o banco precisará de mais cerca de 1,4 mil milhões de euros.
Na sua recente entrevista à RTP, António Costa não escondeu as preocupações que o suposto ‘banco bom’ lhe provoca. O líder socialista ‘atirou-se’ a Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque por terem “anunciado que não teria qualquer risco”, o que qualifica como “uma enorme imprudência”. A avaliação que faz é contrária, o Novo Banco “tem riscos e a avolumarem-se”. Pela sua parte, ainda espera informações mais profundas, vindas em especial do governador do Banco de Portugal, que “ainda não as deu e devia ter dado desde o princípio”.