Poema de João de Almeida Santos com ilustração de desenho inédito de Filipa Antunes para este Poema. Abril de 2017.
A PALAVRA ESCONDIDA
NOS TEUS RISCOS…
I.
Encontro-te
Num acaso
Marcado
Pelo destino!
Olho-te
De frente
Só com palavras!
Agarro
Tuas mãos
Nos traços
Com que desenhas
O infinito…Às vezes,
Olho-te nos olhos,
Em silêncio,
Timidamente,
Com um brilho
Interior
Que não se vê
(Mas se pressente…)!II.
Ah! Como gosto
Do teu rosto,
Linha d’arte
Saída de ti,
De teus dedos
E desse sorriso
Cúmplice
Que me inebria
Tão docemente…É auto-retrato,
É espelho
Onde me vejo
E revejo,
Por dentro,
Através do teu perfil!III.
E digo-te
Palavras…
As do momento,
Sobre o sol,
A chuva
Ou o vento…E sinto-te,
Como quando
Te vi
Pela primeira vez
(Ali…),
Sem te dizer
Que fugiria contigo
Da rua proibida
Para este abrigo
Dos poemas
Que te procuram!IV.
Fugas! Fugas!
Sempre fugas
Para o horizonte
Que persigo
E se afasta,
Como se nelas
Desenhasses
Esse azul infinito
Onde a convergência
Só acontece
Quando o meu olhar
Te procura
Dentro de mim…
E te encontra
(Enfim)!V.
Se te perco
Chega, rápida,
A saudade
Que já espreitava
Na esquina
Do teu olhar
De despedida…Então, escrevo-te
Em prosa,
Certeiro,
Para não falhar
O que talvez
Nunca te direi…Reescrevo,
Palavra sobre palavra
Como se construísse
Um longo poema
De amor…
Com coisas
Triviais!VI.
E procuro
O momento
Para acrescentar
Uma palavra
Simples,
De poucas letras,
Há muito escondida
Na floresta
De riscos e cores
Com que me vais
Pintando
A alma…
…………
Vazia
De tanto esperar!VII.
Se não fosse poema,
Temia o excesso
De palavras…
E que te perdesses
Nas tuas fugas,
Voando,
Leve,
Nas aguarelas
Com que agarras
Os céus
E eu ficasse
Como folha
Branca, caída
– No outono
Do meu afecto -,
Onde deixasses
De fazer riscos
À procura de palavras
Que já nunca chegariam…VIII.
E por isso te procuro
Na arte
Nas palavras
Nas curvas da vida
Que estão mais cheias
De poesia
E de nós
Do que um amor
Declarado
Que nunca será dito…
Ilustração: Desenho inédito de Filipa Antunes para este Poema. Abril de 2017