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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

Buscas nas contas bancárias de Armando Guebuza

Guilherme Alpiarça, em Maputo
Guilherme Alpiarça, em Maputo
Jornalista; voluntário em Moçambique desde 2012

Procuradoria-Geral de República solicita extractos bancários de mais 17 figuras do regime.

A Procuradoria-Geral da República moçambicana (PGR) solicitou, em carta sigilosa enviada a todos os bancos comerciais que operam em Moçambique, os detalhes das contas bancárias de 17 cidadãos moçambicanos, encabeçados pelo anterior Presidente da República, Armando Guebuza e pelo seu filho, Armando Ndambi Guebuza, além de uma empresa “veículo” do escoamento de cerca de dois mil milhões de dólares. Este montante, até agora apurado, equivale às dívidas ocultas contraídas no último ano e meio do mandato do anterior presidente.

A imprensa local não tardou em divulgar os nomes dos suspeitos de terem “escoado” os valores em questão, resultantes de dívidas das empresas Ematum, Proindicus e MAM, as quais não foram divulgadas junto da Assembleia da República nem de qualquer outra instituição obrigatória para o efeito, conduzindo à suspensão das importantes contribuições dos países doadores de Moçambique. A forte crise gerada pela dívida “oculta” conduziu a uma desvalorização de mais de 150% do metical face ao dólar norte-americano desde Maio do ano passado e ao correspondente aumento da inflação para níveis que elevaram os preços dos bens básicos de consumo para valores incomportáveis pela grande parte do povo moçambicano.

Georgina Zandamela, do gabinete de Imprensa da PGR, afirmou que este pedido aos bancos faz parte da auditoria à dívida que está a ser realizada pela empresa Kroll, sediada em Nova Iorque. A empresa foi contratada pela PGR, mas não restam dúvidas que a auditoria foi uma exigência dos países doadores internacionais e do próprio FMI.

Figuras de topo

Na lista total das individualidades alvo desta busca às respectivas contas bancárias (quatro nomes tinham anteriormente sido alvo da mesma iniciativa), constam dois filhos de Armando Guebuza, dois embaixadores, seis conselheiros do antigo presidente e diversos “testas-de-ferro”.

A decisão parece demonstrar que o actual presidente, Filipe Nyusi, quer  “afirmar o seu controlo” sobre o partido Frelimo, no poder, antes da realização do próximo Congresso em Setembro, para o qual se perfilam forças para o tentar abater, na opinião de Darias Jonker, um do analista do Eurasia Group.

Outros agentes políticos, no entanto, mostram  seu cepticismo face à iniciativa da PGR. O deputado Venâncio Mondlane, do partido Movimento Democrático de Moçambique (MDM), fala em “invencionice” e acrescenta em declarações ao jornal “Savana”, que a PGR está numa fase embrionária e quase infantil, ao pedir, neste momento, os extractos das contas bancárias dessas personalidades, depois de dois anos de instauração do processo. “Parece mais uma estratégia de distracção que uma vontade efectiva de se responsabilizar os verdadeiros culpados” daquilo a que Mondlane chama o “Ematumgate”. Na elite empresarial de Maputo comenta-se que muito dificilmente algum daquele dinheiro terá passado pelos bancos comerciais de Moçambique.

A investigação deverá estar concluída até ao final de Abril, dois meses mais tarde do que o previsto. O resultado só será divulgado 90 dias depois, ainda segundo o Savana, referindo como fonte Irina Nyoni, chefe da missão diplomática sueca no país.

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