Esta foi uma das ideias-chave presentes no colóquio “Educação e Cidadania”, que decorreu esta semana na Fundação Calouste Gulbenkian.
Organizado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), este colóquio teve a participação de várias figuras ligadas aos temas em debate como Diogo Freitas do Amaral, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e professor de Direito, Manuel Braga da Cruz, professor catedrático licenciado em filosofia e sociologia ou Mário Vieira de Carvalho, especialista em sociologia da música. Um conjunto de oradores que constatou que “a questão da educação na cidadania e para a cidadania é fundamental”, como disse ao Tornado Marília Futre Pinheiro, organizadora e também interveniente numa das sessões.
Marília Pinheiro veio ao colóquio apresentar a visão do filósofo Aristóteles sobre o que é a cidadania: “Acima do indivíduo, acima dos interesses de cada um, estava o interesse da comunidade”. Admite que essa perspectiva poderia e deveria hoje ser aplicada e analisa: “estes últimos acontecimentos que ocorreram em Paris reflectem precisamente essa falta de cidadania. Porque foram levados a cabo por pessoas que são já europeus, já estão nacionalizados mas que não estão integrados na sociedade”.
Na abertura estiveram ainda o vice-reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira e Manuela Santos Silva, da FLUL que referiram a pouca aposta no ensino da cidadania nos vários níveis de ensino e o papel que os educadores devem ter: não devem ser meros instrutores mas exemplos de cidadãos. “É também a aquisição de um conjunto de valores que tem a ver com as relações que as pessoas estabelecem umas com as outras, com os valores que são adquiridos ou não nas escolas, na família, na sociedade”, explicou Marília Pinheiro
Guilherme d’Oliveira Martins, ex-presidente do Tribunal de Contas e actual administrador da Gulbenkian, foi também um dos oradores a dar o seu contributo para o colóquio. Na sessão de abertura defendeu que a formação cívica deve ser uma disciplina bem aproveitada e estar presente nos vários níveis de ensino. Ideia que foi desenvolvida por Freitas do Amaral na sua intervenção sobre a ética, em que definiu objectivos claros para cada ciclo.
Já David Justino, presidente do Conselho Nacional de Educação estabeleceu para a cidadania três conceitos: “liberdade, ordem moral e social e progresso das sociedades” não descuidando que há várias dimensões da cidadania que vão surgindo ao longo dos tempos e que têm que ser absorvidas. Defende por isso que o que estamos a viver não é uma crise de valores mas uma mudança que a população vê, normalmente, como algo negativo e por isso lhe atribui valor depreciativo. Quanto à educação, David Justino assenta-a em três pilares, cuja prioridade vai mudando consoante a sociedade: educar pessoas, educar cidadãos e formar profissionais competentes. “Face à pressa e à obsessão de formar pessoas competentes, estamos a formar pessoas que não têm essa dimensão cívica que implica responsabilidade, que implica participação, que implica partilha e solidariedade”, explicou ao Tornado.