Lamentamos e condenamos crimes de guerra, ataques terroristas, guerras, destruição e calamidades. Temos por hábito fazê-lo em relação a países cuja localização exacta desconhecemos, por vezes nem estamos certos em que continente se encontram e da sua história, gentes e culturas nada sabemos.
Mas opinamos regurgitando o que aprendemos em filmes comerciais “made in USA” ou lemos algures na Internet, opinamos, formamos juízos de valor e voltamos a regurgitar em esquinas, cafés e redes sociais o que “aprendemos” em 2 minutos sobre nações milenárias, com uma história riquíssima, com tradições, culturas, religiões e estruturas sociais que por vezes não se assemelham as nossas, mas que apesar de desconhecermos em absoluto temos por algum motivo a absoluta certeza de ter o direito de desvalorizar, criticar, atacar.
Voltamos a regurgitar assim que ouvimos “comentadores de tv” esses/essas criaturas omniscientes que com a mesma rapidez analisam uma bomba atómica como uma cozido à portuguesa, lançando pelo meio algum vocabulário erudito, mas sem nunca terem pisado ditos países, nem saberem ao certo o que se passa, mas ouviram dizer a fulano/fulana, e foi publicado um artigo em tal parte… já para não falar daquelas fontes seguras que são as declarações dos políticos que “regem” o mundo e que são reproduzida sem pensar em consequências ou verificações como foi por exemplo o caso do Iraque que levou a milhões de mortes de inocentes devido às mentiras construídas por estes arautos da “liberdade e democracia”, um caso entre muitos.
Lamentamos e condenamos já mais energicamente quando as “baixas civis” ou “danos colaterais” que passam a chamar-se “vitimas de terrorismo” são Europeus. Não me entendam mal, eu lamento, condeno, grito e protesto tanto pela vida de um Europeu como de um Africano ou Asiático, etc. Não choro mais um cristão que um muçulmano ou um budista, para mim todos são seres vivos e um assassinato é um assassinato. Mas convém sabermos o porque de tanta matança, o porquê do silêncio quando morrem milhares de crianças no Iémen, na Síria, e outros sítios do planeta que não seja a Europa ou a América do Norte. Talvez houvesse menos matança se fossemos mais atentos, se não compactuarmos com invasões, ocupações, guerras de agressão, se não enveredarmos por este camminho que nos apresentam como sendo o da democracia e liberdade mas que na verdade é o caminho do lucro, da ganância e da redistribuição de influência e poder.
Se dissermos que não a todo isto e compreendermos por fim que se o meu primo em Saná (capital do Iemen) não está bem eu também não posso estar bem, e se de uma vez por todos exigirmos aquilo que entendemos por Paz para nós também para os outro, talvez aí , nesse momento as coisas comecem a mudar. Somos criaturas desta terra mas abandonamos o mundo em vida, transformando o planeta azul no planeta vermelho de sangue. Acabo de receber a minha linhagem genética de um projecto da National Geographic e verifiquei que sou da Síria, da Suécia, da Etiópia, do Sahara, da península Ibérica, da Rússia e da Irlanda, e isso apenas confirma o que eu já sabia os meus primos e primas são o resto da humanidade e é em fraternidade e paz com eles que quero viver.