Ali ao lado fica a América. Os Estados Unidos da América. Já foi um país de sonhos, uma terra quase virgem onde se semeavam as utopias. Foi mãe da Democracia, uma espécie de nova Grécia atualizada, esta América.
Do lado de cá, chama-se México ao espaço. Constrói-se agora um muro que irá separar ainda mais os povos – e os sonhos. O clima interno é muito tenso. A discriminação – por motivos religiosos – é ponto assente. Os cartéis da droga são poderosos. As rivalidades entre grupos são intensas e ganham cada vez mais intensidade. A política estranha, perdão, externa de Donald Trump tornou o México num alvo fácil. Piores dias se avizinham – e os atuais são muito maus, assegure-se.
Padres católicos e missionários que desapareceram
Lista-se no México os nomes dos padres católicos e dos missionários que desapareceram – alguns “reapareceram”, mortos, enterrados em valas comuns ou atirados para recantos menos óbvios da paisagem. Lista-se os ataques a igrejas evangélicas, promovidos por católicos – os cristãos, de várias orientações, constituem quase 96 por cento da população organizada em grupos de fé. Debate-se com ansiedade e raiva a nacionalização do edifício conhecido por Nova Basílica do Templo de Guadalupe, cátrio e anexos, situado na Plaza de las
Americas, santuário mariano que o Estado, evocando a Lei das Associações Religiosas e Culto Público, que determina que – num artigo da Constituição que data de 1917 – aquilo que aparentemente seria propriedade da Igreja pertence, de facto, ao Estado.
A Constituição consagra o direito de cada pessoa à liberdade de convicções. Mas as pessoas não estão de acordo entre si, nem com aquilo que a Constituição também consagra (como o conceito de propriedade dos locais religiosos). Desde 1990, a guerra entre religiões tem ganho dimensão. Os estados mais violentos (nos últimos 25 anos) são Guerrero, Cidade do México, Chihuahua e Michocan. Há relatos de raptos, de mortes, de grupos vítimas de descriminação, desprezo e de agressões graves. Em 2015, contavam-se as queixas de perseguições aos protestantes em Oaxaca.
Tornar crime a descriminação religiosa
Escolas recusam-se a aceitar a inscrição de crianças, alegando as convicções religiosas dos pais. O México rural é o que vive mais intensamente esta realidade. Sem consequências até ao momento, o Congressista Hugo Eric Flores Cervantes propôs tornar a descriminação religiosa num crime e propor a punição dos seus infratores.
A violência é generalizada. Os grupos religiosos não católicos, os mais perseguidos, queixam-se dos abusos e sentem-se vítimas de discriminação e intolerância. As perspectivas para as liberdades, nomeadamente, a liberdade religiosa, são obscuras. O México vê os muros erguerem-se, todos os dias, em torno da sua felicidade. O que fica para lá do muro parece, infelizmente, ser a indiferença da comunidade internacional, mais atenta aos caprichos de Trump, que vai deixando impunes.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90