Desemprego, falta de perspectiva e insegurança com o futuro. Esse é o cenário que o jovem brasileiro enfrenta atualmente, reflexo da crise econômica somada às reformas encaminhadas pelo Governo Temer, que deteriorarão as relações de trabalho e inviabilizarão a aposentadoria de milhões.
Ao PV, especialistas falam sobre os desafios e perspectivas no recorte da juventude, parcela que já representa um quarto da população do país[1].Brasil
No Brasil do governo Temer, o desemprego entre os jovens bate recordes negativos. Segundo informa o IBGE, o número de desempregados entre 18 a 24 anos atingiu sua máxima em 2016, totalizando 25,7%.
Euzébio Jorge, Economista, Coordenador do Centro de Memória da Juventude (CEMJ) e especialista em democracia participativa, afirma que o Brasil possui problemas estruturais no mercado de trabalho, com índices elevados de desemprego, alta rotatividade e baixos salários. “E os jovens são os mais atingidos, por terem vínculos menos formais, pela facilidade de demissão, pois eles são menos indispensáveis e novatos no mercado de trabalho”, explica.
O economista afirma que as reformas do Temer visam, prioritariamente, ampliar a terceirização, estabelecer o negociado sobre o legislado e flexibilizar o trabalho. “As maiores vítimas são os jovens, pois serão os primeiros a serem impactados com o declínio econômico do país, por consequência o desemprego cresce mais na juventude, que será duplamente afetada se somada as mudanças na legislação trabalhista”, avalia.
Aposentar depois dos 70 anos é um desrespeito com os jovens que estão ingressando agora no Mercado de Trabalho. Essa Reforma da Previdência só beneficia o governo Temer e os empresários. Então, seguiremos fortes na luta!”
Euzébio esclarece que a redução da renda nos últimos anos, promovida pela crise econômica e a instabilidade gerada pelo golpe de Estado, aumentou a taxa de jovens que buscam um emprego para complementar a renda familiar, mas não possuem uma qualificação, fazendo com que ele aceite condições de trabalho precárias. “Com isso, a juventude se torna mais vulnerável”, ressalta.
As reformas trabalhista e da Previdência são ligadas a setores do empresariado nacional vinculados à rentistas internacionais, com objetivo de lucro máximo, seja com o capitalismo produtivo ou com a taxa de juros. “Certamente, a pressão para destruir a Previdência Pública é para tornar a previdência privada a única solução de aposentadoria do povo, impedindo que um conjunto de pessoas realizem as suas contribuições periodicamente”, prevê Euzébio.
“Com esse cenário, provavelmente o jovem não conseguirá se aposentar. A desconstrução da previdência pública é muito perigosa”, conclui Euzébio.
A verdade é que eu não consigo enxergar um futuro com o governo Temer. Nós, que não ocupamos nenhum cargo na política brasileira, estamos todos no mesmo barco, isso é muito triste”.
Educação e trabalho
Helena Abramo, cientista social, desenvolve pesquisas na área da juventude e considera o momento que o Brasil vive de ruptura com as políticas sociais que promoveram a ascensão dos jovens nos últimos anos. “Essa geração é fruto de uma melhoria do acesso à educação e trabalho. Todo o esforço feito por um maior financiamento do ensino público, mesmo que ainda longe do ideal, promoveram melhorias nos índices de acesso e permanência, por exemplo: Nas décadas anteriores, metade dos jovens não concluíram o Ensino Médio, hoje, 70% possuem seu diploma, aumentando também o ingresso no Ensino Superior, com programas como o ProUni, Fies e a expansão das Universidades e Institutos Federais”, analisa.
A cientista social revela que, a partir do momento que a economia melhorou, o adolescente adiou o ingresso ao mundo do trabalho, projetando suas perspectivas no ensino. “Então, a partir dos 18 anos, ele divide seu tempo entre estudo e trabalho, aumentando seu grau de escolaridade e protegido com os direitos trabalhistas”, reitera.
Helena destaca que tanto o acesso à educação quanto a proteção no mercado de trabalho estão ameaçados com Temer. “Esses adolescentes que ingressam hoje na etapa juvenil irão sofrer muito o impacto dessas ações. A situação atual, com a crise econômica, somada às reformas promovidas pelo governo, irão afetar profundamente o presente e perspectivas de futuro desses jovens”, diz.
Ela considera que as reformas, caso aprovadas, serão um fator nocivo à juventude brasileira, “Essa dificuldade de perceber um retorno da Seguridade Social poderá afetar o investimento desse jovem na sua formação e na sua trajetória profissional com a formalidade”, conclui Helena.
Luta
Apesar do cenário de crise e a incerteza com o futuro, a juventude brasileira demonstra sua insatisfação com um Brasil que padece. Seja ocupando sua escola, montando um grêmio, denunciando o machismo ou lutando em defesa da democracia, eles estão presentes.
Essa é a geração conhecida como a do “mimimi”, mas também será conhecida como a geração sem aposentadoria, sem CLT, do “Morreu trabalhando” ou “Trabalhou e morreu”, seremos reconhecidos como a geração da saúde e educação congeladas, sem história, filosofia e sociologia dentro de nossas escolas ”.
[1]Senso IBGE 2014
Por Laís Gouveia | Texto original em português do Brasil
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