Uma das organizações terroristas que mais tem merecido a atenção da imprensa internacional, pelo grau de violência da sua ação e pelas vítimas que deixa sempre que age, é aquela que acabou por ser conhecida como Boko Haram, uma designação que afinal não é substantivo próprio, ou antropónimo, mas uma expressão com cargas nefastas e sobretudo ideológicas.
Boko Haram é, figurativamente, uma frase que, traduzida, é mais ou menos isto:
“a educação ocidental ou não-islâmica é um pecado” (nas línguas faladas no Norte da Nigéria). Em árabe Jama’atu Ahlis Sunna Lidda’awati wal-Jihad“, ou seja, as “Pessoas Dedicadas aos Ensinamentos do Profeta para Propagação e Jihad”. É uma organização marginal e constituída por marginais de índole fundamentalista alegadamente islâmica que, através de métodos terroristas, “procura a imposição da lei – Xaria – no norte da Nigéria”.
Relevam dois termos nestas linhas. O primeiro é Jihad que a imprensa internacional banalizou à margem do seu verdadeiro significa. O outro é Xaria.
Jihad é um termo árabe que significa “luta”, “esforço” ou empenho. É muitas vezes considerado um dos pilares da fé islâmica, que são deveres religiosos destinados a desenvolver o espírito da submissão a Deus.
O termo jihad é utilizado para descrever o dever dos muçulmanos de disseminar a fé muçulmana. É também utilizado para indicar a luta pelo desenvolvimento espiritual.
A Xaria, mais corretamente xaria, e erroneamente grafada como sharia – pela aparente aplicação evoluída a partir de sharīʿah -, é o nome dado ao direito islâmico.
O Boko Haram, na verdade, não promove a jihad – expressão vulgar entre os muçulmanos, a maioria não radical, usada até na incitação das crianças quando fazem os trabalhos escolares, que não se obtêm sem empenho, isto é, sem jihad – mas a luta armada com intuitos assassinos e em nome da defesa de interesses políticos e de poder muito bem delimitados. Não é , obviamente, e por isso mesmo, intérprete
da xaria, pois a lei muçulmana não advoga nos seus princípios estes métodos, como a história demonstra.
Ataques do Boko Haram a norte dos Camarões
Falamos do Boko Haram, agora, a propósito de uma dos países de tradição pacifica ameaçados na sua liberdade religiosa habituado ao respeito mútuo entre as diferentes denominações religiosas: os Camarões. Os ataques do Boko Haram no extremo norte do País vieram desequilibrar um equilíbrio continuado de muitos anos. A resposta militar, de efetivos camaroneses e internacionais, conseguiram em boa medida circunscrever a ameaça, diminuindo-a, mas as consequências estão à vista: milhares de refugiados e de deslocados internamente, além da constante e traumática ameaça de conflito, modificaram a vida nos Camarões.
Religiosos, missionários que representam o clero católico, freiras e padres, foram alvo de ataques, raptos e violência. A polícia faz guarda aos centros de culto e o clero católico que trabalha no extremo norte do território desloca-se e opera com escoltas militares governamentais. Das grandes realizações levadas a cabo destaca-se a criação da Casa do Encontro, que promove encontros entre cristãos e muçulmanos.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90