Uma das melhores performances de Sandra Bullock, mas também de Joaquim de Almeida, com a primeira empenhada em garantir o segundo como candidato improvável às eleições presidenciais. A ideia torna-se ainda mais atraente quando é um filme do texano David Gordon Green (O Sr. Manglehorn, estreou a semana passada), mas mais ainda por não ter a realidade americana como pano de fundo.
A ideia vem, de resto, sugerida por George Clooney e o seu parceiro Grant Heslov, tomando por base o documentário Our Brand Is Crisis, que Rachel Boynton realizou em 2005, sobre o escândalo político de uma equipa de mercenários/estrategas políticos americanos que desenharam uma campanha destinada a impor o regresso do candidato Goni (Gonzalo Sanchez de Lozada) de novo à Presidência da Bolívia. Clooney, que esteve para assumir o papel desse marketeer político, acabou por o entregar à ‘amiga’ Sandra Bullock, com quem contracenara em Gravidade, conferindo assim à trama um adequado tempero feminino.
O filme funciona muito bem. E a vários níveis. Desde logo, por nos dar uma história que não é americana, mas boliviana – por isso mesmo, em grande parte um filme legendado, que naturalmente não terá caído bem num público impreparado para ler legendas. E em que esta mensagem se torna muito mais credível. Por outro lado, pela originalidade de ter uma equipa, literalmente, fora da sua zona de conforto; finalmente, pelo excelente naipe de actores do cast principal, onde acrescentamos um deliciosamente sibilino Billy Bob Thonrton. Naturalmente, muito bem acompanhados pelo restante elenco boliviano.
Bullock é a reticente Jane, Calamity Jane, pelo rol de desaires, ainda que sempre combativa, que acaba por aceitar o desafio para poder pagar contas. Até se deparar com o eterno rival Pat Candy, a trabalhar para o candidato mais bem colocado. No meio temos um Joaquim de Almeida perfeito como o tal candidato reticente, mas que aceita colocar-se no papel do ‘boneco’ que será dominado pela estratégia. O que permite a Almeida uma prestação serena, adequada, à sua medida.
De alguma forma, estes Profissionais da Crise permitiu recordar um dos mais belos filmes sobre campanhas políticas, Bob Roberts – Candidato do Poder, de 1992, na estreia na realização de um Tim Robbins em estado de graça. E reforçado até pela coincidência de até ter por detrás esse documentário, a rimar com o estilo de documentário ficcionado adoptado por Robbins, um pouco ao estilo The This is Spinal Tap, de Rob Reinder, que, curiosamente, também entra em Roberts, no papel de repórter.
Numa altura em que a campanha às Presidenciais começa a ganhar fôlego, e em que os poderes presidenciais estão na ordem do dia nas conversas de café, este Os Profissionais da Crise é um filme a não perder.
A nossa Opinião (de * a *****)
Os Profissionais da Crise ****