Foi há dias tornado público que a Martifer tinha, em 31 de Dezembro de 2016, capitais próprios negativos de 38 milhões de euros e registara, no mesmo ano, 43,6 milhões de euros de prejuízos. O que significa prejuízos acumulados, só durante os últimos 7 anos, no valor astronómico de 366 milhões de euros.Foi há dias tornado público que a Martifer – a empresa a quem, sob a denominação eufemística de “West Sea”, o Governo Coelho/Portas entregou de mão beijada os terrenos, equipamentos e instalações dos ENVC – Estaleiros Navais de Viana do Castelo, despedindo cerca de seis centenas de trabalhadores – tinha, em 31 de Dezembro de 2016, capitais próprios negativos de 38 milhões de euros e registara, no mesmo ano, 43,6 milhões de euros de prejuízos. O que significa prejuízos acumulados, só durante os últimos 7 anos (ou seja, abrangendo o período da “prenda” do Executivo PSD/CDS), no valor astronómico de 366 milhões de euros.
Sob o pretexto dos prejuízos acumulados pelos Estaleiros (decorrentes de verdadeiras gestões ruinosas mas mesmo assim bem inferiores aos da Martifer) e de que o Estado não sabia construir navios e obter ganhos, mas os privados sim, lançaram-se no desemprego milhares e milhares de pessoas (pois aos trabalhadores dos ENVC, somaram-se os das empresas “satélites”, que para eles trabalhavam), privou-se o País de um instrumento estratégico fundamental para o seu desenvolvimento e para a sua soberania e entregou-se o espólio a um grupo económico completamente falido.
Se isto não é um crime de lesa-Pátria e um ilícito penal, ou um conjunto deles, não sei então o que isso seja…
E, todavia, nem o Ministério Público consegue descortinar aqui qualquer ilegalidade nem o Governo de Costa toma qualquer medida para pôr termo e fazer reverter este escandaloso negócio. Tal e qual como no caso da TAP, onde alimenta a esperança de que, com a cumplicidade do PCP, do BE e dos sindicatos por eles dirigidos ou influenciados, possa passar entre os pingos da chuva e permitir ao Sr. Neelman salvar a sua Companhia Azul à custa da transformação da TAP numa verdadeira transportadora regional.
Vale tudo para diminuir o défice
Entretanto, ao mesmo tempo que se procura impor, sob forma recauchutada, a velha política de que vale tudo para diminuir o défice e mostrando de forma bem evidente, mas com o silêncio de todos os partidos e forças políticas que se dizem de “esquerda”, que quem manda em Portugal é Bruxelas, ou melhor, é a Alemanha da Srª Merkel, o Governo deixa claro que não irá revogar qualquer das medidas laborais (alterações ao Código do Trabalho) da Tróica e muito em particular as referentes à facilitação e ao embaratecimento dos despedimentos.
E ao mesmo tempo que estrangula a Ciência, a Cultura, o Ensino e a Saúde com medidas orçamentais (como a “cativação” de verbas) mais brutais do que as da própria Tróica, e invocando a imposição de Bruxelas no sentido da recolha e partilha desses dados com todos os outros Estados membros da União Europeia, o Governo de Costa apresenta uma absolutamente sinistra proposta de lei relativa à criação e regulação de uma gigantesca base de dados dos cidadãos, com impressões digitais e imagens palmares, fotografias e informações policiais (melhor, policiescas) sobre todas as pessoas, ainda que meramente suspeitas (e não condenadas) de todo e qualquer crime (e não apenas os puníveis com penas de prisão superior a 3 anos), conservados durante 15 anos e com um enorme universo de entidades com acesso a ele (e que vão desde as polícias e serviços de informações à Autoridade Tributária e até à ASAE!?).
Claro que, entusiasmado com este “balanço”, logo o CDS se apressou a apresentar um projecto de lei relativo ao acesso, por parte dos serviços de informações, a todas as informações fiscais, bancárias e dos dados de tráfego, localização e outros dados de comunicações de todo e qualquer cidadão que os mesmos serviços de informações decidam declarar “suspeito” e vigiar assim de forma tão indiferenciada quanto permanente e persistente.
A EDP só agora chegou a 61 montes alentejanos
Tudo isto se conhece na mesma semana em que se apresenta como exemplo de magníficos e históricos exemplos quer a circunstância de só em 2017 ter finalmente chegado a electricidade a 61 montes alentejanos, quer a de o recente acordado Contrato Colectivo do sector do calçado ter estabelecido tabelas salariais respeitadoras do princípio da igualdade entre homens e mulheres, tal como, desde há 41 anos, o artº 13º da Constituição clara e explicitamente impõe…
Entretanto, perante o marasmo e o ridículo totais – e o recente arquivamento das investigações criminais sobre o BPN aí estão para o demonstrar! – relativamente ao sector da banca, ficou igualmente a saber-se que os 4 maiores bancos cobraram, só em 2016, mais de 1.371 milhões de euros de “comissões” extorquidas aos clientes sem fundamento algum (desde os chamados “custos de manutenção” de contas que nada custam a manter até à brutal oneração das operações chamadas de “homebanking”, em que são os clientes que tudo fazem através da net mas os Bancos cobram as respectivas taxas).
O Governo e a cumplicidade dos partidos de esquerda…
E no meio do marasmo e da cumplicidade das forças e dos partidos ditos de esquerda – desde os que estão no Parlamento e servem de apoio ao Governo de Costa aos que lá não estão mas beneficiam da situação, desde logo das subvenções estatais que recebem – nenhum ergue a voz e exige, por exemplo, a ampla discussão e a votação do chamado “Pacto de Estabilidade” (que contém o essencial de toda a política fiscal até… 2021!). Como nenhum fala agora contra a “obsessão do défice” e as “medidas de austeridade” (rebaptizadas de “Plano Nacional de Reformas”), e que em nada de essencial diferem das do anterior Governo PSD/CDS.
Também ninguém quer falar do euro e de como ele é um instrumento de garrote, pelo imperialismo alemão, dos países mais fracos como o nosso. A pertença à União Europeia e aos ditames de Bruxelas e de Berlim são aceites como coisa “natural” e “inelutável”, desde que os seus dirigentes sejam mais “polidos” e não nos acusem explicitamente de tudo gastarmos em copos e mulheres; os salários continuam a miséria que se conhece; 57% dos desempregados não recebem subsídio de desemprego e, daqueles que a ele têm acesso, 54% recebem, e durante muito menos tempo (de 25,44 meses de duração, em 2011, passou-se para 17,3 meses em 2016), um valor mensal igual ou inferior a 1 IAS (Indexante de Apoios Sociais), ou seja, 419,22 euros; dos novos contratos de trabalho celebrados no último ano mais de 80% são precários; Portugal, apesar de ter dos salários médios mais baixos dos 35 países da OCDE é o 13º país com carga fiscal mais elevada (41,5% sobre os trabalhadores por conta de outrem!).
Inacção contra as imposições Europeias
Por enquanto, e enquanto os mecanismos de controle e de repressão e as respectivas teorias justificadoras (como as do “direito penal do inimigo”, do “estado de emergência ou de dificuldade financeira”, da “análise económica” dos direitos, liberdades e garantias e dos seus “custos marginais”, etc., etc.) vão medrando e se vão consolidando, o silêncio e a efectiva inacção contra as imposições da União Europeia, do euro, dos “mercados” e a pretensa necessidade da continuação das políticas de austeridade (mesmo para além das metas do défice) por parte daqueles que se dizem seus adversários vão-se tornando cada vez mais ensurdecedores.
Vender ou esquecer os princípios em nome de tacticismos de ocasião não é “pragmatismo”, é oportunismo. E esse, mais cedo ou mais tarde, paga-se caro.
Como a 1ª volta das eleições em França bem demonstra, afundando o PS lá do sítio, promovendo o populismo xenófobo e profundamente reaccionário da extrema direita e permitindo que apareça como “alternativa democrática” e “salvador da Pátria” um retinto neo-liberal ex-governante de Hollande e de Valls, como Ministro da Economia, e autor de uma das reformas laborais mais violentamente anti-trabalhadores e pró-patronais das últimas décadas!
Eis, pois, onde chega o oportunismo daqueles que se dizem de “esquerda” mas, nas questões essenciais, ou se calam “convenientemente” ou fazem o mesmo ou pior que os defensores puros e dutos do imperialismo financeiro!…