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João de Sousa

Domingo, Novembro 3, 2024

Emergência humanitária na República Centro Africana

A organização humanitária Médicos Sem Fronteira (MSF) está a apelar ao cessar-fogo em Bengassou, província de Mbomou, na República Centro Africana (RCA), para poder prestar assistência de emergência à população civil.

Segundo a organização, a situação de segurança continua extremamente volátil, e o actual cenário de violência entre facções muçulmanas e cristãs está a impedir o trabalho dos profissionais no terreno. Após um confronto intenso que eclodiu no último fim-de-semana, em Bangassou, a MSF apelou a todas as partes beligerantes para que iniciassem um cessar-fogo e só esta segunda-feira uma equipa móvel conseguiu chegar às 250 pessoas que encontraram abrigo numa mesquita local.

Todos os feridos têm direito a cuidados médicos. Os civis não deveriam ser alvo, e todas as partes do conflito têm o dever de respeitar a segurança de estruturas médicas como hospitais, ambulâncias e seus profissionais” Referiu René Colgo, coordenadora-geral adjunta de MSF na RCA, actualmente a trabalhar no hospital de Bangassou.

O conflito na parte leste da RCA intensificou-se nos últimos meses, atingindo em Março a província de Mbomou, considerada até aqui relativamente estável. Segundo aquela organização internacional há residentes em fuga, outros continuam presos em casa ou em abrigos como mesquitas e igrejas.

Além das suas intervenções em mais de 12 localidades da RCA, a organização tem apoiado o hospital de Bangassou desde 2014, assim como centros de saúde em Yongofongo, Mbalazine e Niakari, onde oferece cuidados médicos vitais aos 206 mil habitantes da província de Mbomou. De Janeiro a Março, a MSF tratou mais de 2 mil pessoas no hospital local.

Guterres está “indignado”

A Missão de Estabilização Integrada Multidimensional da ONU (MINUSCA) na RCA já anunciou que está a enviar reforços para a zona onde os civis deslocados procuram abrigar-se na mesquita, na igreja católica ou no hospital dos MSF.

Em comunicado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou-se este domingo “indignado” com os ataques contra os civis e os capacetes azuis em Bangassou. “Os recentes incidentes demonstram que a situação na RCA permanece frágil, assim como a necessidade de apoio contínuo da região e da comunidade internacional para superar as dificuldades a que o país tem que fazer face”, declarou Guterres, num comunicado citado pela AFP.

Os confrontos entre as milícias armadas e forças da ONU mataram nos últimos dias seis soldados das Nações Unidas, estando ainda por determinar o número de vítimas entre os civis. Segundo a organização, desde o início do conflito um total de 900 mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas, alguns dos quais fugiram para o vizinho Camarões.

12 mil capacetes azuis

O Presidente da RCA, Faustin Touadera, afirmou que o país, onde mais de metade da população depende de ajuda humanitária, “nunca será deixado nas mãos da morte trazida por aqueles que rejeitam todo o processo de paz”. 

A violência dos últimos meses traz à memória os combates que mergulharam o território no caos há quase quatro anos, quando um grupo de maioria muçulmana (Seleka) derrubou o presidente Francois Bozizé, acusando-o de negligência e marginalização. Em resposta forma-se o movimento anti-Balaka, originalmente composto maioritariamente por cristãos, mas tendo ao longo do tempo caído nas mãos de gangues de jovens armados.

Em 2016, os eleitores da RCA elegeram um governo oficial, no entanto, o seu poder e controlo não se estende fora da capital Bangui. Estima-se que quatro dezenas de grupos armados estão activos.

As Nações Unidas estão presentes no território com mais de 12 mil homens para tentar restaurar a estabilidade. Portugal participa nesse esforço com 160 militares, sendo 156 do Exército e quatro da Força Aérea.

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