Diário
Director

Independente
João de Sousa

Sexta-feira, Agosto 23, 2024

Irá Espanha ceder às pressões de Portugal?

Central Nuclear de Almaraz. O encerramento da central nuclear de Almaraz vai estar em discussão na Cimeira Luso Espanhola que se realiza na próxima semana, em Vila Real.

Na antecipação do debate, o presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues já chamou a atenção dos vizinhos parlamentares, esta segunda-feira, para a posição portuguesa de repúdio relativamente ao prolongamento do tempo de vida da central, que fica a 100 quilómetros da fronteira portuguesa.

Durante a abertura do Fórum Parlamentar, onde os deputados portugueses e espanhóis abordaram a “cooperação transfronteiriça”, Ferro Rodrigues lembrou assim o voto de repúdio aprovado por unanimidade pelo hemiciclo português, na semana passada, no qual todos partidos exigem o encerramento da central de Almaraz.

Entretanto, o deputado Pedro Soares, que é também presidente da comissão parlamentar de Ambiente já criticou o “bloqueio absoluto” da delegação espanhola relativamente à questão que foi ignorada nas conclusões do Fórum. “A delegação espanhola, na sua maioria, teve sempre uma posição de procurar não ter em conta estas preocupações de Portugal”, acusou Pedro Soares, em declarações à Lusa.

Cedência aos interesses económicos

Apresentado pelo Partido Ecologista Os Verdes (PEV), o voto que foi aprovado por todos os partidos com assento parlamentar, repudia o prolongamento do funcionamento da central além de 2020 e pede ao executivo que tome uma “posição peremptória” para que as instalações sejam encerradas.

O PEV continua a criticar o Executivo de António Costa na condução do processo, recordando que Portugal desistiu de uma queixa junto da Comissão Europeia, depois de ter assinado um acordo com Espanha relativamente à reavaliação dos impactos fronteiriços de um aterro temporário que vai ser construído em Almaraz.

O grupo parlamentar lembra ainda as 45 ocorrências nos últimos seis anos para sublinhar que a central “é obsoleta” e representa uma ameaça “que deve ser levada muito a sério”. “Um novo adiamento do seu encerramento, por parte do Governo espanhol, constituiria uma vergonhosa cedência aos interesses económicos das empresas eléctricas e um brutal desrespeito pela segurança das populações, do território e dos ecossistemas”, defende.

Dezenas de incidentes

Ao longo dos últimos anos, várias associações ecologistas têm alertado para o perigo de Portugal poder vir a ser afectado caso ocorra um acidente grave. Uma vez que a central se situa numa albufeira afluente do rio Tejo pode haver contaminação das águas, assim como contaminação atmosférica pela proximidade geográfica.

Portugal não revela estar minimamente preparado para lidar com um cenário deste tipo, pelo que a acontecer um acidente grave, isso traria certamente sérios impactes imediatos para toda a zona fronteiriça, em especial para os distritos de Castelo Branco e Portalegre” Avisa a Quercus em comunicado.

Recorde-se que os incidentes mais recentes ocorreram em Abril com duas falhas no sistema de alimentação aléctrica. Apesar de a administração da central garantir que a situação era “estável e segura”, o Movimento Ibérico Anti-Nuclear contestou.

No ano passado, de acordo com informações reveladas pelo Conselho de Segurança Nuclear (CSN) espanhol, Almaraz usava peças produzidas numa fábrica com irregularidades nos “dossiers” de controlo de qualidade. Na altura, a Quercus reagia, afirmando ser “mais um sinal claro da fragilidade e do potencial perigo da estrutura”.

Perante os sucessivos problemas técnicos e de segurança detectados, é fundamental que a mesma encerre imediatamente e sejam tomadas todas as medidas no sentido de colocar em marcha um plano de desmantelamento da estrutura e descontaminação do local” Defendia a associação ambientalista.

Também em Fevereiro de 2016, foram localizadas duas avarias nos motores das bombas de água, assim como levantadas dúvidas no eficiente funcionamento do sistema de arrefecimento da Central.

Ao lembrar outros incidentes, como os ocorridos em Maio de 2008, que obrigou à evacuação do pessoal do recinto de contenção e onde foram libertados cerca de 30 mil litros de água radioactiva, a Quercus continua a frisar a urgência de se proceder ao encerramento imediato desta Central, que ultrapassou o seu período normal de vida, salientando que “já foram medidos níveis de radioactividade superiores ao permitido”.

A central nuclear de Almaraz, a mais antiga de Espanha a laborar desde 1980, já devia ter sido desmantelada há sete anos. O Executivo espanhol optou por prolongar-lhe a vida até 2020 e as empresas accionistas (entre elas Endesa, Iberdrola e Unión Fenosa) querem ir mais longe e reivindicam a licença para além de 2025.  

A Cimeira Ibérica dos Governos de António Costa e Mariano Rajoy decorre entre os dias 29 e 30 de Maio, em Vila Real, e terá como temas fortes a cooperação transfronteiriça em áreas como a energia, as infraestruturas e o ambiente. Almaraz está na agenda e para Os Verdes “há uma luta firme que tem que continuar a ser travada”.

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -