Sim, não tenho título para este artigo, nem sequer sei o que irei escrever a seguir. Escrever todas as semanas é difícil para quem quer dizer algo com substância e interesse, apesar de haver tantos assuntos para comentar… e bem graves.
Como este crescente afastamento dos EUA da União Europeia. Ou a resposta “dura” da Kanzlerin Merkel, dizendo que é tempo de os europeus tomarem conta de si. Sim, os europeus! 500 milhões em regime tutorial, até agora, ao que parece! Não sabia. Ou, se calhar, até sabia! Foi preciso aparecer Trump para um dos nossos vir dizer o que todos sentimos há muito tempo: que é preciso retomar a política nesta Europa de contabilistas, feridos irremediavelmente de “algebrose”, a descoberta científica de um psicanalista meu amigo, quando psicanalisou a eurocracia.
O inenarrável Nigel Farage
Ou, então, a conversa do inenarrável Nigel Farage, que vem aqui dizer – perto da minha casa, imaginem!, eu que sou europeísta! -, no Centro de Congressos do Estoril, alarvidades que nem na sua casa devia dizer. Não lhe chegou a desgraça do Brexit, no Reino Unido! Agora quer criar uma indústria para exportação da bela decisão. “No, thanks! Nigel, go home, please!” Até gostaria de saber quem foi a mente brilhante que o convidou para vir dizer estes disparates ao Estoril! Sim, gostaria de saber para lhe chamar uns nomes!
Um tipo, esse Nigel, esse Farage, que ainda por cima não se demitiu do Parlamento Europeu, onde continua a perorar contra a União. Vai a casa do vizinho e começa a insultá-lo! Mas lá ganha-se umas boas massas! E pode-se defender e propalar impunemente as ideias mais estapafúrdias! O que eu já não ouvi a esse indivíduo no Parlamento Europeu! Ou seja, pagam-lhe para atentar (e o atentado já o cometeu) contra quem lhe paga. Belo negócio, este! Assim, a União há-de ir longe…
Mas sim, não tenho título para este artigo, apesar do naufrágio da Venezuela sob o comando desastroso do Conducator Nicolás Maduro ou da lenta caminhada do Brasil para o abismo, depois da golpaça de Eduardo Cunha – agora na cadeia – e de Michel Temer, a provar do mesmo veneno com que matou politicamente Dilma Rousseff. Não é para rir, mas sabe bem – que Deus me perdoe! – ver quem matou com ferros, de ferros morrer!
Mas talvez tivesse um título para o atentado de Manchester se não me soubesse a acto miserável de comunicação política do radicalismo islâmico, manchado do sangue de tantos inocentes, para impor um sentimento generalizado de insegurança nas nossas cidades e pôr em causa o nosso modo quotidiano de vida. Não, não lhes dou cobertura, sequer com um título. Já o fiz uma vez e não o volto a fazer!
Conferências do Estoril
Tinha, isso sim, encontrado um título, a propósito das Conferências do Estoril. Mas quando ouvi os dislates desse tal Farage lembrei-me de novo do Brexit e perdi a paciência, para não dizer a cabeça. Só não a perdi porque o indivíduo não merece isso. Mas, não, apesar disso, nunca direi deste sujeito que é simplesmente um “beef” malpassado, porque não quero ofender sequer os que, timoratos da sua sobrevivência, votaram pelo sim à saída do Reino Unido da União. Mas não lhes perdoo o erro e o mal que fizeram à Europa a que, afinal pertencem.
Um título até encontraria facilmente se quisesse perder tempo a comentar as perigosíssimas bizarrias bélicas do miúdo da Coreia do Norte. Mas é melhor não. É assunto que não merece discurso, apesar da sua periculosidade! Não suporto ver aquele sorriso gorduroso impante, ufano, perante as bombas que levantam voo não se sabe, um dia, para onde…
Não sei se sabem, mas o título de um artigo é a coisa mais difícil para quem tem de o escrever. Depois de se decidir acerca do título – que é, afinal, a decisão sobre o assunto a tratar – é tudo muito fácil. Pelo menos para mim. Mas neste caso não consegui mesmo encontrar um título, apesar de a política internacional estar a ficar cada vez mais difícil, caótica e imprevisível e de o mundo em que vivemos ter perdido pelo caminho algumas bússolas que serviam se não para nos guiar, pelo menos para não nos desviarmos para caminhos perigosos. Isto durante muitas décadas, depois de termos experimentado a tragédia de duas guerras que fizeram dezenas de milhões de mortos.
“Nigel, fuck you”
Mas será que o senhor Farage já se esqueceu disto? Do papel que a União desempenhou e desempenha em matéria de paz? E na sua função num mundo cada vez mais globalizado?
Teria gostado de ver o Francisco Assis (pareceu-me vê-lo lá) levantar o dedo em riste – ou (a)tirar mesmo um ameaçador sapato – e dizer-lhe um sonoro “fuck you!”. Nem que, depois, tivesse que lhe pedir desculpa em privado! Amanhã toda a gente falaria dele, voltando assim à ribalta! Era bom para o Assis, mas também para nós. Mas, baralhado como ando, já nem sei o que pensa o Francisco de tudo isto.
Chegado aqui, e já quase a terminar o artigo, continuo sem título. Mas agora também já não vale a pena. A não ser que lhe ponha um, do tipo: “Nigel, fuck you”! Mas é melhor não! Afinal, o homem parece que é “um convicto europeu”! Dá para rir, não dá?