“Contra a central de Almaraz, contra a construção de cemitérios nucleares e contra todas as centrais nucleares”. Este é o mote para a manifestação convocada pelo Movimento Ibérico Antinuclear (MIA), que espera reunir cerca de 10 mil pessoas no próximo sábado, 10 de Junho, em Madrid.
”Vamos ter certamente uma grande presença de portugueses, à semelhança do que tivemos há um ano em Cáceres,” para os cidadãos “mostrarem aos dois governos que não querem energia nuclear, querem que o Governo espanhol anuncie imediatamente o encerramento das centrais nucleares ainda em laboração e defina um calendário com tempo” para esse objectivo, disse esta terça-feira Nuno Sequeira, vice-presidente da Quercus à agência Lusa.
Partidos, Organizações de Ambiente, movimentos e cidadãos de Portugal e Espanha, incluindo o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) e o seu congénere espanhol Equo, vão estar presentes na marcha que vai percorrer dois quilómetros entre a estação da Atocha e a praça Puerta del Sol, no centro da cidade.
No âmbito do balanço da Cimeira Ibérica, que se realizou na semana passada em Vila Real, o PEV critica o facto de Almaraz ter ficado fora da agenda oficial de António Costa e Mariano Rajoy, e contesta a “postura tomada pelo Governo Português”.
Em declarações ao Tornado, o deputado José Luís Ferreira destaca que Os Verdes “têm exigido ao executivo português que assuma uma postura política de pressão para encerrar a central nuclear de Almaraz, situada a escassos quilómetros da fronteira portuguesa e utilizadora das águas do Tejo para o sistema de refrigeração”.
Para o PEV não restam dúvidas “que a única maneira de o Governo defender os interesses de Portugal, das suas populações e dos seus ecossistemas, é pressionando Espanha para o encerramento da central nuclear de Almaraz”.
O deputado recorda ainda que está a decorrer uma campanha de recolha de postais, a nível nacional mas com incidência nos conselhos ribeirinhos do Tejo, que espelham a voz das populações que exigem o encerramento da central. “Os Verdes comprometem-se a fazer chegar muito em breve aos dois Executivos a opinião dos portugueses que manifestam claramente a sua firme vontade de ver a Central encerrada”, refere.
Também na Assembleia da República o PEV continuará a pressionar o Governo para que claramente defenda o não prolongamento do funcionamento da Central Nuclear de Almaraz” Acrescenta José Luís Ferreira.
O deputado aproveita, por fim, para lamentar que na Cimeira tenham ficado por responder questões relacionadas com “o ciclo sucessivo de poluição que tem vindo a ocorrer no Rio Tejo, património fundamental para o país, mas que continua a ser atacado por diversas frentes, designadamente descargas ilegais e caudais absolutamente insuficientes para a salvaguarda dos ecossistemas”.
“A necessidade da revisão da Convenção de Albufeira, com Espanha, no sentido da garantia dos caudais ecológicos necessários para assegurar uma boa gestão e sustentabilidade deste rio internacional, assim como do Douro,” é outros dos assuntos que não foi abordado.
O deputado José Luís Ferreira lamenta que na Cimeira Ibérica tenham ficado por responder questões relacionadas com “o ciclo sucessivo de poluição que tem vindo a ocorrer no Rio Tejo, património fundamental para o país, mas que continua a ser atacado por diversas frentes, designadamente descargas ilegais e caudais absolutamente insuficientes para a salvaguarda dos ecossistemas”
Voto de repúdio
Recorde-se que no mês passado foi apresentado pelo PEV um voto de repúdio, aprovado por todos os partidos com assento parlamentar, contra o prolongamento do funcionamento da central além de 2020, exigindo ao Executivo que tome uma “posição peremptória” para que as instalações sejam encerradas.
O PEV continua a criticar o Governo de António Costa na condução do processo, ao lembrar que Portugal desistiu de uma queixa junto da Comissão Europeia, depois de ter assinado um acordo com o país vizinho relativamente à reavaliação dos impactos fronteiriços de um aterro temporário que vai ser construído em Almaraz.
O grupo parlamentar traz ainda à memória as 45 ocorrências nos últimos seis anos para sublinhar que a central “é obsoleta” e representa uma ameaça “que deve ser levada muito a sério”. “Um novo adiamento do seu encerramento, por parte do Governo espanhol, constituiria uma vergonhosa cedência aos interesses económicos das empresas eléctricas e um brutal desrespeito pela segurança das populações, do território e dos ecossistemas”, defende.
Ao longo dos últimos anos, várias associações ecologistas têm alertado para o perigo de Portugal poder vir a ser afectado caso ocorra um acidente grave. Uma vez que a central se situa numa albufeira afluente do rio Tejo pode haver contaminação das águas, assim como contaminação atmosférica pela proximidade geográfica.
A central nuclear de Almaraz, a mais antiga de Espanha a laborar desde 1980, já devia ter sido desmantelada há sete anos. O Executivo espanhol optou por prolongar-lhe a vida até 2020 e as empresas accionistas (entre elas Endesa, Iberdrola e Unión Fenosa) querem ir mais longe e reivindicam a licença para além de 2025.